quinta-feira, 8 de setembro de 2011

Conto - O Vento Sopra - Parte Final

Mesmo esgotada fisicamente depois de cada jornada de trabalho, Maria da Conceição chegava em casa perto das oito e meia da noite e após preparar o jantar, lavar a louça, esfregar algumas peças de roupas e passar as que seriam usadas no dia seguinte ainda tinha dúvidas. E colocava-se a pensar, jogada sobre a rala espuma de um sofá velho, que aquilo não era um emprego.

Ser cabo eleitoral nunca havia passado pela cabeça de Maria da Conceição. Verdade. Embora não discriminasse quem recorresse a aquele tipo de ocupação, Maria da Conceição não entendia como era possível manter uma boa relação com um patrão em quem não se acredita.

Sempre fora assim. Nos pequenos empregos como doméstica, Maria da Conceição conseguia ser tão fiel à família que a contratava que tornava-se, às vezes, até confidente. Nas raras vezes em que enfrentou desacertos tratou de demitir-se.

Não por culpa dela, mas por tantas decepções que havia sofrido, Maria da Conceição era avessa à política feita da forma que os políticos de hoje em dia fazem. Em quem confiar, perguntava-se frequentemente. Maria da Conceição não chegou aos bancos de uma universidade, mas teve o privilégio de fazer um bom curso fundamental.

Se isso era pouco, ela tinha uma formação de berço tradicional. Rigorosa, mas de efeitos positivos. Maria da Conceição aprendeu em casa, com os pais, a respeitar e a pedir para ser respeitada.

Se não tinha livros para ler, aprendia sobre as coisas importantes da vida ouvindo muito o que as pessoas com mais conhecimento falavam. Maria da Conceição, enfim, sabia da vida por viver a vida de uma maneira produtiva.

Não era, portanto, por falta de estudo que Maria da Conceição poderia ser considerada uma ignorante de determinados assunto. Na política ela sabia, por exemplo, que alguns homens públicos aumentam em dez vezes a sua riqueza num mandato que dura apenas quatro anos, mas é cumprido pela metade. E aquele que era o seu padrão agora estava entre os que ela desconhecia a honestidade.

 
Enfim... uma rua deserta é um mar por onde se caminha entregue à ferocidade das ondas. É um vai e não vai meio trôpego, pisando num asfalto que parece líquido, de tão inconsistente que é. Isso acontece quando o coração pede para ir, mas as pernas recusam. O que a alma enxerga é o rumo certo, mas os olhos embaçam. É coragem e medo. Decisão e incerteza.

Lá adiante a figura de uma pessoa. Ela vai. Não se sabe a que ritmo. Parece lenta, mas pode haver ilusão de ótica. O andar deve ser vagaroso, mas provavelmente a necessidade de chegar seja urgente. Onde?

O algum lugar é a única certeza. O verbo é o pretende-se. Há um tempo no verbo, o que se quer é o pretérito perfeito. Mas pode ser o contrário. Ficar é um perigo e ir é um risco. Na pior das hipóteses, uma possibilidade adiante se abre. Depois outra e mais outra, atrás de tantas outras até que um dia acontece. Quando isso vier haverá riso e choro de felicidade. E se começará tudo de novo.

Lá atrás ficou uma marca. Na parede de uma loja desativada uma bandeira fincada num mastro de plástico. Não venta e o pano mole cai fechando o letreiro estampado em uma de suas faces.

Não há candidato e nem campanha eleitoral. Maria da Conceição deve participar da democracia apenas votando. Ainda não sabe em quem. Promete avaliar com rigor os que postulam algum cargo. A princípio ninguém ainda a convence.

Tem tempo pela frente para uma decisão acertada. Agora, indo, ela deixa nas suas costas um emprego que a deixava contrariada e vai em busca de uma ocupação que a faça sentir-se uma trabalhadora.

Maria da Conceição não sabe por quanto tempo terá que caminhar, mas tem certeza que chegará.
Mesmo esgotada fisicamente depois de cada jornada de trabalho, Maria da Conceição chegava em casa perto das oito e meia da noite e após preparar o jantar, lavar a louça, esfregar algumas peças de roupas e passar as que seriam usadas no dia seguinte ainda tinha dúvidas. E colocava-se a pensar, jogada sobre a rala espuma de um sofá velho, que aquilo não era um emprego.

Ser cabo eleitoral nunca havia passado pela cabeça de Maria da Conceição. Verdade. Embora não discriminasse quem recorresse a aquele tipo de ocupação, Maria da Conceição não entendia como era possível manter uma boa relação com um patrão em quem não se acredita.

Sempre fora assim. Nos pequenos empregos como doméstica, Maria da Conceição conseguia ser tão fiel à família que a contratava que tornava-se, às vezes, até confidente. Nas raras vezes em que enfrentou desacertos tratou de demitir-se.

Não por culpa dela, mas por tantas decepções que havia sofrido, Maria da Conceição era avessa à política feita da forma que os políticos de hoje em dia fazem. Em quem confiar, perguntava-se frequentemente. Maria da Conceição não chegou aos bancos de uma universidade, mas teve o privilégio de fazer um bom curso fundamental.

Se isso era pouco, ela tinha uma formação de berço tradicional. Rigorosa, mas de efeitos positivos. Maria da Conceição aprendeu em casa, com os pais, a respeitar e a pedir para ser respeitada.

Se não tinha livros para ler, aprendia sobre as coisas importantes da vida ouvindo muito o que as pessoas com mais conhecimento falavam. Maria da Conceição, enfim, sabia da vida por viver a vida de uma maneira produtiva.

Não era, portanto, por falta de estudo que Maria da Conceição poderia ser considerada uma ignorante de determinados assunto. Na política ela sabia, por exemplo, que alguns homens públicos aumentam em dez vezes a sua riqueza num mandato que dura apenas quatro anos, mas é cumprido pela metade. E aquele que era o seu padrão agora estava entre os que ela desconhecia a honestidade.

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