sexta-feira, 30 de setembro de 2011

Breve análises de fatos que são notícias

São dois acontecimentos que ganham notas na página A17, Internacional, de o Estado de S.Paulo, edição de 30 de setembro de 2011.

Em uma das notas, o repúdio da Comissão da Mulher Advogada da Ordem dos Advogados do Brasil (OAB-SP) contra a decisão de um tribunal da Arábia Saudita de condenar uma mulher a receber dez chicotadas por ter desrespeitado a proibição de dirigir, determinada pelos religiosos daquele país.

Segundo a nota de repúdio da Comissão da Mulher, “a despeito de o rei saudita Abdullah ter revogado a sentença, é importante que toda a comunidade internacional se manifeste contra normas obscurantistas como essa”.

A conclusão: tanto lá quanto aqui. Com certeza as normas obscurantistas de lá, incluindo atrocidades também em outros países, devem ser combatidas com muita determinação pelo mundo.

Já aqui as atrocidades estão nos recintos fechados dos lares brasileiros, nas ruas, nas repartições públicas, nos ambientes de trabalho das empregadas domésticas, na falta de vagas em creches, no atendimento precário da saúde e assim por diante. É uma modalidade diferente de chicotada. Dói mas não deixa ferida exposta. Aliás, às vezes, no caso da violência física, resulta sim em graves escoriações tanto na pele quanto na alma.

O outro caso é o da jornalista francesa Tristane Banon, que acusou o ex-diretor do FMI, Dominique Strauss-Kahn, de tentar estuprá-la em 2003. Na acareação realizada em Paris o ex-diretor disse que a jornalista mente e as acusações são imaginárias. A jornalista manteve a versão de que Strauss-Kahn tentou tirar sua roupa a força. O ex-diretor assumiu que tentou beijar a jornalista.

A conclusão: só o fato de tentar beijá-la escancara a perda da ética e do caráter diante do alto cargo que ele exercia. Diretor do FMI não deve ter sexo e nem idade. Não pode ser bonito ou feio. Nem é rico e nem é pobre. É o diretor do FMI. Fica o alerta também para alguns profissionais de jornalismo que confundem.

quinta-feira, 29 de setembro de 2011

Elas se armam de cautela e chegam onde querem

Lavar, passar, cozinhar, guardar, arrumar, educar, amar, trabalhar, contentar e recomeçar. Sempre...

O cotidiano da maioria das mulheres brasileiras é de sobrecarga de tarefas. Na verdade, missões. Algumas porque o próprio modelo cultural historicamente impõe à mulher funções que desobrigam o homem a exercê-las. Dentre elas estão aquelas que se feitas por homens colocam em dúvida a masculinidade.

Esta forma de agir e pensar perde força, mas jamais podemos dizer que está com os dias contados. É de se considerar que até recentemente alguns homens não queriam que suas mulheres trabalhassem. Seja por ciúme ou por outro tipo de insegurança, estes queriam suas esposas em casa para as tarefas diárias que relacionamos no início do texto: lavar, passar, cozinhar, cuidar, guardar, arrumar, educar, amar, contentar e recomeçar no dia seguinte.

Veja que tiramos desta última vez a palavra trabalhar. Isto porque na cabeça de alguns homens as atividades domésticas não são trabalho. São obrigações do sexo frágil. Do tipo: “Enquanto eu trabalho você fica arrumando a casa e cuidando das crianças”.

É bem isso. Só quando a cinta começou a apertar é que os homens assumiram que a mulher teria que ser parceira na obtenção da renda familiar.

Ainda assim podemos dizer que, mesmo no Brasil, o quadro hoje é da presença feminina marcante em áreas vitais do país. Se a cultura machista ainda é forte, a nossa presidenta é mulher. Ainda na política as mulheres, se numericamente ainda são inferiores, em conteúdo e propostas chegam a ser supremas. E vai na economia, na saúde, na educação, nas artes e assim por diante.

Este avanço foi plantado lá longe, anos atrás. Não estamos nos referindo aos movimentos pela emancipação da mulher. Tratamos aqui de iniciativas individuais e temos bons exemplos na medicina.

Alguém já ouviu falar de Maria Augusta Generosa Estrela? Ela foi a primeira brasileira a ter diploma em medicina. Para isso, teve que estudar nos Estados Unidos, pois no Brasil era proibido a mulher freqüentar curso de medicina. Maria Augusta, que nasceu no Rio de Janeiro, se formou em 1881, em Nova York.

Rita Lobato Velho Lopes, que nasceu no Rio Grande do Sul, foi a segunda mulher brasileira a se formar em medicina e foi a primeira a concluir o curso no Brasil, em 1887. Outras duas gaúchas, Ermelinda Vasconcelos e Antonieta César Dias, se formaram em 1888 e 1889 respectivamente.

Assim podemos dizer que os dias dos machistas não estão contados, mas a tempos a moral deles sofre abalos não com tiros desferidos pelas costas, mas com a luta individual das mulheres.

quarta-feira, 28 de setembro de 2011

Menininha de seis anos mexeu com as pessoas



Sim, Mafalda, aquela dos quadrinhos. Quem é que não lembra? As estorinhas eram de uma menina preocupada com a paz mundial e a humanidade. Mafalda era uma rebeldezinha e com a sua postura contestadora ganhou o público da América Latina e da Europa.

No dia 29 de setembro de 1964 a primeira tira de quadrinhos desta menina, criada pelo cartunista Quino, foi publicada no jornal Primera Plana, na Argentina. Na verdade a personagem havia sido concebida para  propaganda que circularia em o Clarín dois anos antes. Mas um rompimento do contrato engavetou a produção.

A passagem pelo Primera Plana foi curta. Em março de 1965 o jornal teve que interromper a produção por causa de uma disputa jurídica sobre a quem pertencia a personagem e suas histórias. Não demorou uma semana e as tiras de Mafalda passaram a ser publicadas todos os dias no jornal Mundo, de Buenos Aires.

O Mundo faliu em dezembro de 1968. Então Mafalda ficou fora dos jornais até junho de 1968, quando o Siete Días Ilustrados passou a publicá-la. O autor decidiu interromper a publicação das histórias em junho de 1973. Mas Mafalda continuou aparecendo mesmo assim. Basta conferir o material de uma campanha da Unicef em 1976: a menina ilustra a Declaração Universal dos Direitos da Criança.

Nas estorinhas, Mafalda é uma menina de seis anos de idade que questiona o jeito que o mundo se encontra. Papá, seu pai, é empregado de uma companhia de seguros e fica desesperado quando analisa a sua idade. Mamã, a mãe, é dona de casa e por não ter completado os estudos é considerada medíocre pela filha.

Outros personagens das tiras de Mafalda são Felipe, Manoelito, Susanita, Guille, Miguelito, Liberdade e a tartaruguinha Burocracia.

É de se pensar que a própria caracteristica questionadora da personagem criada por Quino tenha resultado em tantas controvérsias no período de publicação das histórias. Disputas jurídicas, rompimento de contrato, falência de um jornal e depois o desinteresse do autor acabaram com as estórias da menina que, diferente dos modelos da Disney, mexeu com os leitores dos quadrinhos. Mafalda era uma revolucionária e, naqueles anos, muita pessoas tinham a necessidade de abrir a boca no mundo mas não sabiam como fazer isso.

Felizmente temos, na atualiade, um elevado número de Mafaldas, principalmente nas organizações populares. São elas que garantem às pessoas, senão o que seria ideal, pelo menos o mínimo necessário para que haja atendimento em saúde, educação, cultura, emprego e oportunidades para todos.

terça-feira, 27 de setembro de 2011

Pote de manteiga mantém mãe presa por 4 meses

(análise de caso ocorrido em 2005, em São Paulo)

Jardim Maia, São Paulo, dia 16 de novembro de 2005. A doméstica Angélica Aparecida Souza, então com 19 anos de idade, está desempregada. Ela tem um filho de dois anos e mora com a mãe, que está doente.

Ao ver o filho chorando de fome entrega-se ao desespero e aceita convite de uma amiga para ir a um supermercado, onde esconde um pote de manteiga - com preço etiquetado de R$ 3,10 - em um boné. Flagrada, é levada à Delegacia, em Pinheiros.

Lá a doméstica permanece 128 detida. O advogado Nilton José de Paula pede a liberdade provisória de Angélica por quatro vezes, mas os pedidos são negados pela Justiça de São Paulo. O advogado recorre ao Supremo Tribunal de Justiça com pedido de hábeas corpus e depois de quatro meses, em março de 2006, a liberdade na fase de processo é concedida pela instância maior. Ainda assim Angélica é condenada a cumprir pena de quatro anos de prisão em regime semi-aberto.

Está claro que a Justiça pauta suas decisões na lei e não poderia ser diferente. Claro também que a doméstica foi pega em flagrante com o produto de uma tentativa de roubo escondido no boné. E fora do foco da legislação vigente, o advogado de Angélica fez o que pode ao alegar que ela deveria ser acusada de furto e não roubo, que fora provocado pelo “estado de miséria pela qual passa juntamente com sua família”. Isto justificaria atitude de desespero. E não nos cabe, já que estamos fora dos parâmetros do conhecimento jurídico, dizer se houve roubo ou apenas a tentativa, já que Angélica foi surpreendida no local pelo próprio dono do estabelecimento.

Em outro caso onde o rigor da lei e o peso da Justiça foi volumoso, uma mulher rouba um shampoo e é condenada a um ano. A diferença deste e do anterior é que a mulher do shampoo tramou o ato com a ajuda de um comparsa. Enquanto ele conversa com a proprietária do estabelecimento, ela coloca na bolsa o shampoo e outras pequenas mercadorias. A mulher do shampoo foge e é pega depois. A mulher da manteiga nem fugir sabia.

Daqui comparamos com a condenação do marido de Maria da Penha Maia Fernandes, a farmacêutica cearense que é bandeira da luta contra a violência doméstica: dez anos, mas apenas dois em regime fechado.

E comparamos com outras condenações, inclusive políticas: chega-se à sentença quando os valores do processo são pequenos em relação a outros processos que envolvem desvios de milhões. Infelizmente, estas sentenças dão a idéia equivocada de que até na criminalidade a proporção do que é tirado compensa.

Por isso casos como o do rouba do pote de 200 gramas de manteiga merecem, junto com o rigor da lei e da Justiça, decisões embasadas também no humano e no social. Ninguém, grande ou pequeno, deve ficar impune, mas haveria no caso de Angélica outro tipo de condenação.

Ou junto com os quatro anos de regime semi-aberto o setor social da Justiça de São Paulo encaminhou socorro para o filho de dois anos e a mãe doente da doméstica?

segunda-feira, 26 de setembro de 2011

A titica mexe com os oportunistas e os interesseiros

Uma lua de unha. Isto cá entre nós, que já gozamos a era do avanço da mulher na política e em tudo o mais. Estamos falando da Arábia Saudita, onde a mulher é obrigada a se vestir da cabeça aos pés de negro, não pode conduzir um carro, é punida quando se deixa fotografar junto com um grupo de homens e deve entrar e sair de restaurantes usando portões específicos.

Agora elas sorriem com uma conquista: poderão votar e se candidatar a partir das eleições de 2015. Isto numa monarquia onde elas só podem freqüentar os shoppings no período da manhã. As mais abastadas são levadas a estes locais por motoristas particulares. Chegam com os rostos escondidos e só os mostram a partir da placa que avisa: “Somente mulheres. Câmeras não são permitidas. Por favor retirem a cobertura do rosto”.

O direito ao voto e à candidatura foi concedido pelo rei Abdullah bin Abdulaziz al-Saud. Mas não esperem pela participação delas na votação que haverá na semana que vem. Só em 2015. A monarquia al-Saud, para se ter uma idéia, está no poder há 88 anos. Também não se iludam com a possibilidade de uma democracia, senão plena, pelo menos significativa. As eleições do reino são parciais: são escolhidos por voto apenas metade das cadeiras dos 285 conselhos municipais que existem. E isso, de acordo com as análises políticas, não causa efeito algum na forma de governo predominante.

De qualquer forma, mesmo tendo que esconder o rosto e qualquer parte do corpo usando o abava, nome dado à vestimenta preta, elas passarão a ter participação na política. Elas que são proibidas de ter contato com homens. Uma estudante universitária daquele lugar só vê o seu professor através de vídeos ou de um espelho de duas faces.

Ela que precisa de um guardião, que pode ser o marido, o pai, o irmão ou o filho. E diante do guardião tem que ser submissa. É ele, o guardião, que a autoriza a estudar, tirar carteira de identidade, viajar e se internar num hospital.

Ela vai votar e ser candidata a partir de 2015. E os Estados Unidos, mesmo na era Obama, pose de benfeitor de um gigante acontecimento, prometendo apoiar o rei e o povo saudita na reforma eleitoral. Como sempre, oportunismo descarado e interesseiro por uma lua de unha.

sexta-feira, 23 de setembro de 2011

A linha que separa a economia oficial da cotidiana

O dólar a um e oitenta, um e noventa, dois ou mais é a mesma coisa para quem se obriga a viver apertado. Estamos acostumados a lidar com a economia. Não aquela mostrada pelos jornais, que consultam os números oficiais e rebatem os resultados com os especialistas. Dentre eles, convenhamos: deve haver economista que raramente faz compra em supermercado.

A economia que conhecemos, e muito bem, está no nosso dia-a-dia: se chover muito a verdura encarece porque os produtores tiveram perdas; no caso contrário, estiagem prolongada significa alface, repolho, tomate, abóbora, cebola e outros itens mais caros, porque houve prejuízos no campo.

E se percebe, ao mesmo tempo, que com chuva ou estiagem quem se dá mal é sempre o produtor rural. Em clima apropriado e produção normal, quem ganha menos é este mesmo, o agricultor. Então, na ponta final do negócio agrícola, que está na venda direta ao consumidor, que somos nós, há ainda estudioso que justifica: o tomate está caro porque choveu ou estiou, o combustível eleva o custo do frete, os impostos fazem isso e fim de conversa. Fácil, não? Análise desse tipo todos nós fazemos. Quanto ao produto que está com preço elevado, ou você paga e leva para casa ou deixa de consumi-lo.

O caso do leite, por exemplo, está duradouro. Safra ou entressafra, dólar alto ou baixo, o preço está cada vez nas alturas. Com o encarecimento do leite, os derivados sobem junto. Está muito difícil, desse jeito, montar uma bela e gostosa pizza em casa.

A carne tem o preço batendo no céu. E o frango, que era a opção, vai aos pouco no mesmo caminho. Então resta a lingüiça. Ou parte-se para o ovo? Se o consumidor aproveitar a promoção encontra a dúzia do produto bem em conta. Mas fora disso, os mais graúdos custam lá pelos três reais.

E de repente aparece no jornal, na televisão e no rádio que o preço da cesta básica teve queda. Claro, caiu na análise oficial, mas subiu no nosso cotidiano, este que não dispensa um demorado exercício de matemática para somar a renda da família e subtrair conta de água, luz, telefone, aluguel, ônibus, medicamento e o que sobra para as compras do mês.

Nisso só entram alimentos e produtos básicos de higiene e limpeza. O resto é objeto do desejo. Enfim, é o parâmetro que temos para medir se a economia vai bem ou mal. E os nossos indicadores econômicos são infalíveis porque são baseados nos nossos sacrifícios.

quinta-feira, 22 de setembro de 2011

5 anos da Lei Maria da Penha, muito ainda a fazer


Maria da Penha Maia Fernandes, uma farmacêutica cearense, é mais do que uma mulher. Maria da Penha é o nome da lei que ampara as mulheres brasileiras vítimas da violência, a de número 11.340, que entrou em vigor no dia 22 de setembro de 2006.

São cinco anos de vigência, período no qual as denúncias de mulheres contra homens agressores cresceram 150 por cento, de acordo com dados divulgados recentemente pelo Superior Tribunal de Justiça. Se é que os números são importantes, é preciso acrescentar: em cinco anos foram registradas cerca de 110 mil denúncias contra homens agressores. Desse total, pelo menos 12 mil já foram condenados.

Estes números, porém, apenas consolidam a eficácia da lei. Muito ainda tem que ser feito. Primeiro porque algumas das punições causam ainda mais revolta nas vítimas por serem leves. Segundo porque há mulheres que horas ou dias após procurarem a polícia retiram a queixa por arrependimento ou por sofrerem pressões que nem sempre são exercidas pelos agressores. Às vezes outros membros da família interferem negativamente. E elas voltam a ser vítimas, em situação piorada. Ciente da incapacidade da mulher em colocá-lo na cadeia, o agressor tende a se tornar mais violentos.

A história de Maria da Penha Maia Fernandes é diferente, mas só saiu do comum após muito sofrimento. Por seis anos ela foi vítima da violência diariamente em seu ambiente doméstico. O marido, o professor universitário Marco Antônio Heredia Viveiros, espancava e violentava Maria da Penha e ela até então se mantinha em silêncio. O motivo da violência era o ciúme.

Foi preciso a situação chegar ao extremo para que a voz saísse. Isso, infelizmente, ocorreu em 1983, quando numa noite, enquanto ela dormia, o marido atirou em Maria da Penha. O tirou deixou a mulher paraplégica. O marido alegou que um ladrão havia alvejado Maria da Penha.

Foram meses internada no hospital e quando Maria da Penha voltou para casa, o marido a manteve presa e prosseguiu com as agressões. Nova tentativa de homicídio, por eletrocussão – exposição do corpo à dose letal de energia elétrica – foi feita pelo marido, junto com a tentativa de afogamento. Só então Maria da Penha procurou a ajuda da família e saiu de casa junto com as três filhas, precisando para isso de uma autorização judicial.

Fora de casa Maria da Penha iniciou a sua luta por segurança e justiça para ela e para a população feminina que sofre, em igual, menor ou maior proporção, os efeitos da violência doméstica. A primeira batalha durou sete anos e o marido, levado a júri, foi condenado a 15 anos de prisão. Mas a defesa apelou e conseguiu anular a sentença.

Em 1996, um novo julgamento condenou o marido a 10 anos de prisão, mas ele permaneceu em regime fechado por apenas dois anos. Indignada, Maria da Penha procurou o Centro pela Justiça pelo Direito Internacional, que junto com o Comitê Latino-Americano de Defesa dos Direitos da Mulher formalizaram denúncia à Comissão Interamericana de Direitos Humanos da OEA (Organização dos Estados Americanos). Um consórcio de ONGs também se fez presente e o caso de Maria da Penha ganhou repercussão internacional.

Este consórcio elaborou uma proposta, que foi reformulada por um grupo de trabalho coordenado pela Secretaria Especial de Políticas para as Mulheres do Governo Federal e encaminhada ao Congresso Nacional, que a transformou em projeto de lei. Após audiências públicas nas cinco regiões do Brasil, um acordo entre o Governo Federal, o Consórcio de ONGs e a relatoria dos projetos resultou num substitutivo, que foi aprovado por unanimidade pelo Congresso Nacional.

A Lei Maria da Penha foi sancionada pelo então presidente Luiz Inácio Lula da Silva no dia 7 de agosto de 2006. Entrou em vigor no dia 22 de setembro de 2006.

quarta-feira, 21 de setembro de 2011

Dica de leitura - A história de Mukhtar Mai

Na véspera dos cinco anos de vigência da Lei Maria da Penha (Lei 11.340), que começou a valer no dia 22 de setembro de 2006, a dica de leitura de Desonrada, escrito pela jornalista francesa Marie-Thérèse Cuny. Conta a história da paquistanesa Mukhtar Mai, que em 2002 foi julgada por uma espécie de conselho tribal formado só por homens – cerca de 100 – e condenada a um estupro coletivo.


Mukhtar, de 28 anos, pertencia a uma casta inferior e foi pedir clemência para o irmão mais jovem, que estava para ser condenado à morte por ter se envolvido com uma mulher de um clã superior. Além de ignorar o pedido de Mukhtar, o líder tribal ordenou a punição imposta pelo conselho.

A mulher foi arrastada por quatro homens armados, que a agarraram pelos braços e puxaram suas roupas, o xale e o cabelo. Dentro de um estábulo vazio os homens a violentaram no chão de terra batida. Mukhtar relata no livro que não tem noção do tempo que durou o estupro.

Por três dias permaneceu trancada em seu quarto, sem conseguir falar e comer. Pensou em se suicidar, mas reuniu forças para reagir. Tempos depois montou uma escola para meninas, onde diz encontrar conforto.

O fato aconteceu no vilarejo de agricultores chamado Meerwala, a 600 quilômetros de Islamabad, capital do Paquistão. Mukhtar confessa que a dor daquele epsódio ainda é muito forte, mas iniciou um movimento que contesta a condição feminina em seu país e questiona hábitos ancestrais como a jirga, o conselho tribal que a condenou.

terça-feira, 20 de setembro de 2011

Violência doméstica, intrafamiliar e de gênero

(parte final da série sobre tipos de violência contra a mulher)

A ação ou a omissão que cause prejuízo ao bem-estar, como também à integridade física, psicológica ou a liberdade e o direito ao pleno desenvolvimento de alguém da família, caracteriza a chamada violência intrafamiliar, desde que cometida dentro ou fora de casa por um membro da família.

Esse membro pode ser uma pessoa que passa a assumir função parental, ainda que sem laços de consangüinidade, e em relação de poder à outra. Em outras palavras, essa pessoa nem sempre é um parente biológico. Pode ser, por exemplo, uma companheira ou um companheiro integrados à família.

Lembre-se, portanto: prejuízo ao bem-estar, à integridade física e psicológica; cerceamento da liberdade e do direito ao pleno desenvolvimento de alguém da família. Isso inclui estudos, religião, atividades culturais, esporte entre outros.

Já no caso da violência doméstica, a diferença é que o autor da violência pode ser alguém sem função parental na família, mas que viva no mesmo espaço doméstico. Por exemplo, um agregado, uma pessoa que convive esporadimente com o grupo e até mesmo um empregado. Mas a violência doméstica pode ter também como autor um parente, inclusive de sangue.

A violência doméstica acontece dentro de casa. As agressões domésticas incluem abuso físico, sexual e psicológico, a negligência e o abandono.

Quanto à violência de gênero, caracteriza-se sobretudo pela relação de desigualdade entre o homem e a mulher. Inclui qualquer conduta ou ação que cause morte, dano ou sofrimento físico, sexual ou psicológico à mulher, tanto no ambiente doméstico quanto fora.

Informações extraídas de: Ministério da Saúde. Violência Intrafamliar: orientações para a Prática em Serviço. Brasília DF: Ministério da Saúde 2002.

Confira também em:

segunda-feira, 19 de setembro de 2011

Violência física é muito mais do que se pensa

Empurrar, socar, agredir com tapas, morder, chutar, estrangular, queimar e cortar são, com certeza, os atos de violência física mais nítidos. Mas as pessoas devem saber que há muito mais do que isso.
A definição é de que a violência física ocorre quando alguém está em relação de poder diante de outra pessoa e causa ou tenta causar dano não acidental a esta. Atente-se para o detalhe: causa ou tenta causar dano não acidental.

Para isso esse alguém usa da força física ou de algum tipo de arma que pode provocar, ou não, lesões externas, internas ou ambas. O portal da Universidade Federal do Rio de Janeiro acrescenta que há concepções mais recentes que considera inclusive o castigo repetido, não severo, como violência física.

Assim, além dos atos acima descritos, são caracaterizados como violência física: lesões por armas ou objetos; obrigar a tomar medicamentos desnecessários ou inadequados, álcool, drogas ou outras substâncias, inclusive alimentos.

Consideram-se também: tirar de casa à força; amarrar; arrastar; arrancar a roupa; abandonar em lugares desconhecidos; causar danos à integridade corporal por negligência (omissão de cuidados e proteção contra agravos evitáveis, tais como situações de perigo, doenças, gravidez, alimentação, higiene e outros).

Informações extraídas de: Ministério da Saúde. Violência Intrafamliar: orientações para a Prática em Serviço. Brasília DF: Ministério da Saúde 2002.

Confira também em:

sexta-feira, 16 de setembro de 2011

Atos que caracterizam a violência sexual

Tratamos nesta parte da violência sexual, na qual se enquadra uma variedade de atos ou tentativas de relação sexual sob coação física forçada. Isso ocorre no casamento ou em outros tipos de relacionamento.

No ambiente doméstico, a violência sexual pode ser cometida por pessoas conhecidas das mulheres, como o próprio marido ou companheiro. Por isso esse tipo de violência contra a mulher costuma ser mantido em silêncio.

São diversos os atos sexualmente violentos. Dentre eles, o estupro dentro do casamento ou namoro; o estupro cometido por estranhos; as investidas sexuais indesejadas ou o assédio sexual, inclusive a exigência de sexo como pagamento de favores; o abuso sexual de pessoas mental ou fisicamente incapazes.

Em relação às crianças, são considerados atos sexualmente violentos: o abuso sexual de crianças; o casamento ou a coabitação forçados, inclusive o casamento de crianças.

No casos gerais ainda constam: a negação do direito de usar anticoncepcionais ou adotar outras medidas de proteção contra doenças sexualmente transmitidas; o aborto forçado; os atos violentos contra a integridade sexual das mulheres, inclusive a mutilação genital feminina e os exames obrigatórios de virgindade.

Dois outros atos são considerados e merecem atenção da pessoas, pois podem ocorrer em circunstâncias e em locais fora do conhecimento da família: a prostituição forçada e o tráfico de pessoas com fins de exploração sexual; o estupro sistemático durante conflito armado.

Estes últimos casos, embora pareçam mais comuns em guerras ou situações específicas, pode ocorrer em ambientes onde a dominação de gangues impõe à comunidade uma rigorosa lei do silêncio em troca da vida das pessoas.

São dados extraídos de: Ministério da Saúde. Violência Intrafamiliar: orientações para a Prática em Serviço. Brasília DF: Ministério da Saúde; 2002.

Confira mais detalhes clicando em:

http://www.ess.ufrj.br/prevencaoviolenciasexual/index.php/tipos-de-violencia-cometida-contra-a-mulher

quinta-feira, 15 de setembro de 2011

Saiba o que caracteriza a violência psicológica

O insulto, quando constante, é uma forma de violência psicológica. Insultar significa, a grosso modo, atacar com palavras, agir com modos ofensivos; ultrajar, afrontar, ofender. Classificar de ignorante, idiota, gorda ou gordo, baixinha ou baixinho, chinês, pobre, feia ou feio são insultos. Alguns destes adjetivos caracerizam, além da violência psicológica, discriminação e preconceito.
Mas muitas outras formas de violência psicológica tão ou mais nocivas: a humilhação, a desvalorização, a chantagem, o isolamento de amigos e familiares, a ridicularização, o rechaço (fazer retroceder opondo resistência, repelir, rebater, interromper com palavra ou gesto repentino), a manipulação afetiva, a exploração, a negligência (ato de omissão a cuidados e proteção contra agravos evitáveis como situações de perigo, doenças, gravidez, alimentação, higiene e outros).
Mais ainda: as ameaças, a privação arbitrária da liberdade, que é o impedimento de trabalhar, estudar, cuidar da aparência pessoal, gerenciar o próprio dinheiro, brincar e assim por diante. O confinamento doméstico também configura violência psicológica, assim como as críticas pelo desempenho sexual, a omissão de carinho e também negar atenção e supervisão.
Sobre a manipulação afetiva que mencionamos acima, encontramos em página da Universidade Federal do Rio Grande do Sul que ela é sutil e complexa, “pois faz uso de processos inconscientes ou semi-conscientes onde o afeto e o sentimento predominam”. Diz ainda que entre as principais técnicas psicológicas empregadas na manipulação afetiva, estão a imitação, a sugestão, a persuasão, a pressão moral, a percepção subliminar, a reflexão, e os reflexos condicionados.
A violência psicológica, enfim, é aquela que procura afetar a vítima reduzindo ou eliminando a auto-estima.
Material citado pelos autores: Ministério da Saúde. Violência Intrafamiliar: orientações para a Prática em Serviço. Brasília DF - Ministério da Saúde; 2002.
Leia mais em:
http://www.ess.ufrj.br/prevencaoviolenciasexual/index.php/tipos-de-violencia-cometida-contra-a-mulher

quarta-feira, 14 de setembro de 2011

Fique atenta: tipos de violência contra a mulher (1)

Confira a partir de hoje os tipos de violência cometidos contra a mulher. Se você é vítima ou sabe de alguém que sofre com o problema, entre em contato com esta associação para ser orientada sobre como proceder sem correr ou colocar pessoas em risco. O conteúdo apresentado é extraído do site abaixo, onde poderão ser obtidas informações com mais detalhes:

http://www.ess.ufrj.br/prevencaoviolenciasexual/index.php/tipos-de-violencia-cometida-contra-a-mulher

Iniciamos com dois tipos e violência: econômica ou financeira e institucional. A violência econômica ou financeira é caracterizada por todos os atos destrutivos ou omissões do(a) agressor(a) que afetam a saúde emocional e a sobrevivência dos membros da família. Nisso estão incluídos: roubo; destruição de bens pessoais (roupas, objetos, documentos, animais de estimação e outros) ou de bens da sociedade conjugal (residência, móveis e utensílios domésticos, terras e outros); recusa de pagar a pensão alimentícia ou de participar nos gastos básicos para a sobrevivência do núcleo familiar; uso dos recursos econômicos da pessoa idosa, tutelada ou incapaz, destituindo-a de gerir seus próprios recursos e deixando-a sem provimentos e cuidados.

A violência institucional é aquela exercida nos/pelos próprios serviços públicos, por ação ou omissão. Incluir a falta de acesso e à má qualidade dos serviços. São, enfim, abusos cometidos em virtude das relações de poder desiguais entre usuários e profissionais dentro das instituições, até por uma noção mais restrita de dano físico intencional. É identificada de várias formas: peregrinação por diversos serviços até receber atendimento; falta de escuta e tempo para a clientela; frieza, rispidez, falta de atenção, negligência; maus-tratos dos profissionais para com os usuários, motivados por discriminação, abrangendo questões de raça, idade, opção sexual, deficiência física, doença mental; violação dos direitos reprodutivos (discrição das mulheres em processo de abortamento, aceleração do parto para liberar leitos, preconceitos acerca dos papéis sexuais e em relação às mulheres soropositivas – HIV -, quando estão grávidas ou desejam engravidar); desqualificação do saber prático, da experiência de vida, diante do saber científico.
Material citado pelos autores: Ministério da Saúde. Violência Intrafamiliar: orientações para a Prática em Serviço. Brasília DF - Ministério da Saúde; 2002.

terça-feira, 13 de setembro de 2011

Pereirão já inspira homem no anúncio de serviços

Criatividade. Esta é a palavra certa. Na internet, um profissional anuncia seus serviços com o anúncio: “Sou melhor que o Pereirão da novela”. E acrescenta ter 30 anos de experiência naquele tipo de faz de tudo mostrado na televisão pela personagem Griselda, interpretada pela atriz Lília Cabral.

Verdade, trata-se de uma novela. E por mais que estas produções tentem tratar a realidade como ela é, distorções viciosas aparecem no remelexo dos roteiros e dos enredos. Ás vezes causas banais interferem em mudanças sugeridas – ou determinadas – pela direção da emissora ou por iniciativa dos próprios autores, que baseiam as continuidades de acordo com a reação do telespectador.

O problema é que algumas das mexidas são desastrosas, pois tiram do foco uma verdade. As fantasias, em determinadas circunstâncias, são mais apreciadas pelo público. Por isso quando alguém é mau em uma novela esta personagem é trabalhada como extrema e incansavelmente má. Se há um bobo da corte, este é obrigado a interpretar o seu papel como um incorrigível babaca. E assim vai...

Novela é assim mesmo. A idéia dos produtores é de que ninguém se espelha no que é simples ou ruim. O telespectador quer riqueza, sofisticação, ruindade extrema, babaquice às tampas e, sobretudo, beleza. Tanto feminina quanto masculina. Confira que as mães das novelas são mais atraentes e sensuais que as próprias filhas, pois a intenção é mostrar aquilo que queremos ser. Jamais aquilo que somos, pois isso não dá Ibope.

Pereirão é o contrário. Tão diferente do comum que já está fazendo os homens que trabalham como maridos de aluguel se valerem dela para anunciarem seus serviços. Pereirão não é aquilo que queremos ser. Pereirão é aquilo que somos. Fique claro que o nome profissional adotado pela Griselda é também um apelo comercial, mas esconde uma discriminação à mulher. Quem contrataria os serviços de Pereirão para consertar o encanamento de casa se soubesse que ela é uma mulher?

Pois é. Pereirão é também aquilo que somos porque existem, Brasil afora, muitas mulheres que arregaçam as mangas para tirar o sustento de casa. Há anos já temos as motoristas de pesados ônibus e caminhões. As taxistas que correm risco. As mecânicas, as carpinteiras, as pedreiras e assim por diante. Pereirão, portanto, não é uma personagem criada para influenciar a mulher brasileira. Pereirão é o Brasil.

Por Walter Ogama

segunda-feira, 12 de setembro de 2011

O 12 de setembro tem a ver com as mulheres

No dia 12 de setembro de 1963 o então presidente João Goulart assinou o Decreto número 52.476, que promulgou a Convenção sobre os Direitos Políticos da Mulher adotada na 7ª Sessão da Assembléia Geral das Nações Unidas, realizada em Nova York no dia 31 de março de 1953.

Detalhes: somente dois anos após a Sessão da ONU o Congresso Nacional Brasileiro aprovou a Convenção, através do Decreto-Legislativo número 123, de 20 de novembro de 1955. E foram-se mais oito anos até que o Governo Federal a promulgasse.

Pelo Decreto 52.476, cuja publicação se deu no dia 16 de setembro de 1963, a Convenção seria executada e cumprida na íntegra a partir de 11 de novembro de 1963.

A Convenção diz em seu Artigo I: “As mulheres terão, em igualdade de condições com os homens, o direito de voto em tôdas as eleições, sem nenhuma restrição”. O Artigo 2 estabelece: “As mulheres serão, em condições de igualdade com os homens, elegíveis para todos os organismos públicos de eleição, constituídos em virtude da legislação nacional, sem nenhuma restrição”. E o Artigo 3 estende a igualdade aos postos públicos: “As mulheres terão, em condições de igualdade o mesmo direito que os homens de ocupar todos os postos públicos e de exercer tôdas as funções públicas estabelecida em virtude da legislação, nacional sem nenhuma restrição”.

Decreto à parte. A mulher brasileira desde anos antes conquistava espaços na política nacional, conforme um cronograma já publicado neste blog. Vamos repetir alguns fatos:

·         em 1928, Alzira Soriano eleita prefeita de Lajes, no Rio Grande do Norte, pelo Partido Republicano, foi a primeira mulher escolhida para ocupar um cargo eletivo. Alzira, porém, não terminou o seu mandato, pois a Comissão de Poderes do Senado anulou os votos de todas as mulheres;

·         o Rio Grande do Norte é, portanto, o primeiro Estado a insttuir o voto feminino, em ato do ano de 1927. A primeira mulher a fazer o alistamento eleitoral naquela oportunidade foi a professora Celina Guimarães, de Mossoró;

·         no dia 24 de fevereiro de 1932, o Código Eleitoral Provisório concedeu às mulheres o direito de votar nas eleições nacionais. Mas só as mulheres casadas, viúvas e solteiras com renda própria podiam votar. E as casadas tinham que ter autorização dos maridos;

·         em 1934 saiu o Código Eleitoral definitivo com um detalhe: o voto feminino não era obrigatório. Assim, o voto feminino sem restrições só ocorreu a partir de 1946;

·         em 3 de maio de 1933, a médica paulista Carlota Pereira de Queiroz foi a primeira mulher a votar e ser eleita deputada federal e a participar dos trabalhos na Assembléia Nacional Constituinte em 1934 e 1935.

sexta-feira, 9 de setembro de 2011

Depoimento - O vai da vida às vezes é uma teimosia

Eneida é uma imagem que me assombra qualquer que seja a lua desenhada no céu. Ela vem e me pega em transe, sem que eu saiba se sonho ou enfrento um pesadelo. Nunca diz nada. Apenas dirige os seus olhos avermelhados de choro para um ponto que não sei o que eles enxergam.

São olhos negros. Grandes e redondos, nunca piscam. Ficam fixos e mal permitem interpretações sobre o que miram. Há na frente de Eneida uma área em destroços. Algo que o fogo levou e deixou somente cinzas. Ainda sobem fumaças, mas já são raros os locais onde se percebem o brilho púrpuro das brasas.

Soube que Eneida morava ali. Repartia um teto com um companheiro que um dia disse que a amava. No outro dia o companheiro havia transformado o seu amor em ciúme. O ciúme virou violência e o amor de Eneida por ele se transformou em ódio.

Soube depois que as carícias antes irrecusáveis tempos depois deixavam marcas. Tapas, socos e arranhões caracterizavam uma relação insustentável. O carinho foi trocado pelo medo. E as previsões, antes feitas sobre o que seria possível ter no futuro para ambos, agora eram sobre a impossibilidade de um dia seguinte.

As ameaças contemplavam o silêncio. A vida estava em perigo mas a voz se calava cada vez mais a cada ato de truculência. A cara metade havia caído. Eneida, que fora mulher, sucumbia ao assumir novas condições, sempre impostas: objeto do prazer, saco de pancada, inútil e biscate.  

Foi muito tempo para Eneida conseguir fugir daquele pesadelo. Quando ela despertou e foi à Delegacia da Mulher denunciar o companheiro o troco foi a casa incendiada. Eneida recebeu apoio e eu, repórter de um jornal em Santa Catarina, consenti comigo mesmo que timidamente havia feito parte daquela história de retomada da vida.

Mas agora me tortura com sua imagem estática sob qualquer lua. É que eu soube que Eneida voltou ao parceiro que havia destruído a sua vida uma vez, depois que ele cumpriu uma leve pena na prisão.

quinta-feira, 8 de setembro de 2011

Conto - O Vento Sopra - Parte Final

Mesmo esgotada fisicamente depois de cada jornada de trabalho, Maria da Conceição chegava em casa perto das oito e meia da noite e após preparar o jantar, lavar a louça, esfregar algumas peças de roupas e passar as que seriam usadas no dia seguinte ainda tinha dúvidas. E colocava-se a pensar, jogada sobre a rala espuma de um sofá velho, que aquilo não era um emprego.

Ser cabo eleitoral nunca havia passado pela cabeça de Maria da Conceição. Verdade. Embora não discriminasse quem recorresse a aquele tipo de ocupação, Maria da Conceição não entendia como era possível manter uma boa relação com um patrão em quem não se acredita.

Sempre fora assim. Nos pequenos empregos como doméstica, Maria da Conceição conseguia ser tão fiel à família que a contratava que tornava-se, às vezes, até confidente. Nas raras vezes em que enfrentou desacertos tratou de demitir-se.

Não por culpa dela, mas por tantas decepções que havia sofrido, Maria da Conceição era avessa à política feita da forma que os políticos de hoje em dia fazem. Em quem confiar, perguntava-se frequentemente. Maria da Conceição não chegou aos bancos de uma universidade, mas teve o privilégio de fazer um bom curso fundamental.

Se isso era pouco, ela tinha uma formação de berço tradicional. Rigorosa, mas de efeitos positivos. Maria da Conceição aprendeu em casa, com os pais, a respeitar e a pedir para ser respeitada.

Se não tinha livros para ler, aprendia sobre as coisas importantes da vida ouvindo muito o que as pessoas com mais conhecimento falavam. Maria da Conceição, enfim, sabia da vida por viver a vida de uma maneira produtiva.

Não era, portanto, por falta de estudo que Maria da Conceição poderia ser considerada uma ignorante de determinados assunto. Na política ela sabia, por exemplo, que alguns homens públicos aumentam em dez vezes a sua riqueza num mandato que dura apenas quatro anos, mas é cumprido pela metade. E aquele que era o seu padrão agora estava entre os que ela desconhecia a honestidade.

 
Enfim... uma rua deserta é um mar por onde se caminha entregue à ferocidade das ondas. É um vai e não vai meio trôpego, pisando num asfalto que parece líquido, de tão inconsistente que é. Isso acontece quando o coração pede para ir, mas as pernas recusam. O que a alma enxerga é o rumo certo, mas os olhos embaçam. É coragem e medo. Decisão e incerteza.

Lá adiante a figura de uma pessoa. Ela vai. Não se sabe a que ritmo. Parece lenta, mas pode haver ilusão de ótica. O andar deve ser vagaroso, mas provavelmente a necessidade de chegar seja urgente. Onde?

O algum lugar é a única certeza. O verbo é o pretende-se. Há um tempo no verbo, o que se quer é o pretérito perfeito. Mas pode ser o contrário. Ficar é um perigo e ir é um risco. Na pior das hipóteses, uma possibilidade adiante se abre. Depois outra e mais outra, atrás de tantas outras até que um dia acontece. Quando isso vier haverá riso e choro de felicidade. E se começará tudo de novo.

Lá atrás ficou uma marca. Na parede de uma loja desativada uma bandeira fincada num mastro de plástico. Não venta e o pano mole cai fechando o letreiro estampado em uma de suas faces.

Não há candidato e nem campanha eleitoral. Maria da Conceição deve participar da democracia apenas votando. Ainda não sabe em quem. Promete avaliar com rigor os que postulam algum cargo. A princípio ninguém ainda a convence.

Tem tempo pela frente para uma decisão acertada. Agora, indo, ela deixa nas suas costas um emprego que a deixava contrariada e vai em busca de uma ocupação que a faça sentir-se uma trabalhadora.

Maria da Conceição não sabe por quanto tempo terá que caminhar, mas tem certeza que chegará.
Mesmo esgotada fisicamente depois de cada jornada de trabalho, Maria da Conceição chegava em casa perto das oito e meia da noite e após preparar o jantar, lavar a louça, esfregar algumas peças de roupas e passar as que seriam usadas no dia seguinte ainda tinha dúvidas. E colocava-se a pensar, jogada sobre a rala espuma de um sofá velho, que aquilo não era um emprego.

Ser cabo eleitoral nunca havia passado pela cabeça de Maria da Conceição. Verdade. Embora não discriminasse quem recorresse a aquele tipo de ocupação, Maria da Conceição não entendia como era possível manter uma boa relação com um patrão em quem não se acredita.

Sempre fora assim. Nos pequenos empregos como doméstica, Maria da Conceição conseguia ser tão fiel à família que a contratava que tornava-se, às vezes, até confidente. Nas raras vezes em que enfrentou desacertos tratou de demitir-se.

Não por culpa dela, mas por tantas decepções que havia sofrido, Maria da Conceição era avessa à política feita da forma que os políticos de hoje em dia fazem. Em quem confiar, perguntava-se frequentemente. Maria da Conceição não chegou aos bancos de uma universidade, mas teve o privilégio de fazer um bom curso fundamental.

Se isso era pouco, ela tinha uma formação de berço tradicional. Rigorosa, mas de efeitos positivos. Maria da Conceição aprendeu em casa, com os pais, a respeitar e a pedir para ser respeitada.

Se não tinha livros para ler, aprendia sobre as coisas importantes da vida ouvindo muito o que as pessoas com mais conhecimento falavam. Maria da Conceição, enfim, sabia da vida por viver a vida de uma maneira produtiva.

Não era, portanto, por falta de estudo que Maria da Conceição poderia ser considerada uma ignorante de determinados assunto. Na política ela sabia, por exemplo, que alguns homens públicos aumentam em dez vezes a sua riqueza num mandato que dura apenas quatro anos, mas é cumprido pela metade. E aquele que era o seu padrão agora estava entre os que ela desconhecia a honestidade.

quarta-feira, 7 de setembro de 2011

Mulheres marcham no 7 de setembro de Londrina


O Conselho Municipal dos Direitos da Mulheres de Londrina marcou presença neste
7 de setembro no desfile comemorativo da Independência. Dona Rosalina Batista (na foto abaixo junto com a secretária da Mulher, Sueli Galhardi), uma das fundadoras da Associação de Mulheres Batalhadoras do Jardim Franciscato, levou a sua simpatia e o seu carisma à avenida.


terça-feira, 6 de setembro de 2011

Conto - O Vento Sopra - Terceira Parte

O café ficou pronto muito antes do sol mostrar a cara. Lá pelas cinco da madrugada Maria da Conceição se pôs de pé, vencendo as dores das varizes que descem pelas duas pernas. As saliências formam mapas. Parecem rios e seus afluentes. Mancham a pele e obrigam a mulher a usar, mesmo no calor, calças compridas sobre meias de compreensão para aliviar a ardência.

Ontem Maria da Conceição saiu pouco antes das sete da manhã de casa. Pegou um ônibus lotado e viajou o percurso de mais ou menos sete quilômetros pendurada no cano instalado no teto do veículo, substituindo os pingentes. De pouca estatura, ela é obrigada a se esticar, para não ser traída pelas curvas acentuadas e freadas bruscas. As pernas, doloridas, apresentaram no fim do dia mais inchaço por causa do contorcionismo que todo o passageiro que viaja de pé num ônibus urbano é obrigado a praticar. E o percurso, que poderia ser vencido em meia hora, durou muito mais do que isso.

Maria da Conceição chegou ao comitê do candidato para o qual trabalha vinte minutos antes do horário de início da sua jornada. Foi o tempo necessário para ir ao banheiro ajeitar os cabelos e passar água fria no rosto. Depois retirou com o coordenador da equipe de rua o seu material de trabalho: a bandeira com o mastro de PVC e um bom punhado de “santinhos”.

Dali foi levada em uma perua Kombi para a área comercial de um bairro distante, junto com mais oito companheiras. Maria da Conceição ocupou a sua esquina, onde agitou a bandeira e distribuiu panfletos. O local, com pouco movimento de pessoas e de carros, permitiria um descanso, até uma sentadinha num banco próximo. Mas ela não quis se arriscar a ter que assinar uma advertência.

O almoço do dia foi pago pelo comitê da campanha: marmitex com arroz, feijão, carne de panela e salada. Nada mais justo, pois as trabalhadoras não teriam onde comprar por conta uma refeição barata e descente naquela localidade. Uma praça de gramas altas e árvores maltratadas foi o refeitório.

Comida pronta é de tempero suave. Há quem goste de sal, outros preferem o sabor mais suave. Maria da Conceição não se dava mais ao luxo de ter escolha. Bastava o arroz, o feijão, a saladinha, a carne com muitos nervos e excesso de gordura. Comia-se o que era possível. Com ou sem sal. De tempero adequado ou sem nenhum cuidado no preparo.

Mas ontem Maria da Conceição se limitou a apenas três garfadas. A comida não desceu por causa de um nó que fechou a garganta e encerrou a fome. Um nó de tristeza, de vontade de ter um emprego que ela tinha consciência, merecia. Para fazer o que sabia: lavar e bem, passar e da melhor forma, higienizar, limpar, caprichar e, enfim, viver com a certeza de que pode, com tarefas que parecem ter pouca importância, tornar o sujo em limpo, o ofuscado em transparente, a noite em dia, os dias em outros dias e a vida em uma possibilidade agradável de viver.

Por Walter Ogama

segunda-feira, 5 de setembro de 2011

Conto - O Vento Sopra - Segunda Parte

(produzido e publicado na campanha eleitoral de 2010)

Dignidade em qualquer situação. Maria da Conceição trazia esse ensinamento de berço. Às vezes, quando criança, enfrentou com os pais e os irmãos circunstâncias desesperadoras por falta de dinheiro. Nunca ao extremo da fome, porque se não havia arroz e feijão na mesa, recorria-se às abóboras plantadas no cercadinho cedido pelo dono da terra para a família tocar uma horta de sustentação.

Os apertos eram de roupas remendadas até as últimas possibilidades, calçados descolados de tanto uso, falta de recursos para a compra do material das crianças e privações que se acostumam, mas de maneira nenhuma são aceitas. Como a geladeira estragada que mais servia como um armário. O fogão de lenha com os tijolos despencando, as panelas amassadas e de cabos improvisados. As pequenas bacias de alumínio usadas como pratos. Ou a caneca feita de lata de óleo de soja, de uso comum para preparar o ralo café da manhã e para todos beberem água retirada de um poço.

Jamais os pais de Maria da Conceição pediram socorro de um parente ou conhecido para melhorar o conforto da família. Nem no inverno mais forte a falta de um chuveiro elétrico foi considerado um drama. Fervia-se a água num balde colocado sobre o fogareiro de tijolos montado ao lado da porta da cozinha. A água, com quentura de pelar, ia para uma grande bacia guardada num cercadinho sem porta. O aviso de que algúém usava o local para o banho era a cortina fechando o acesso. As crianças aproveitavam a mesma água para se banhar.

Quantas vezes Maria da Conceição empinou pipa feita com folhas de revistas velhas. Ver o pedaço de papel com os rabos torcidos, agitando-se ao vento, dava uma sensação de possibilidade. Voar, sair do lugar, ir adiante, subir, ver o mundo de cima. Por isso o tremular das bandeiras depois de anos, já na idade de frequentar uma escola no meio urbano, era uma nostalgia apreciável, de querer sentir o passado sem sair do presente e ir além, no calcanhar do futuro, talvez até para as birutas que nos desenhos animados mostram a direção do vento nos campos de pouso e decolagem dos aviões.

Nada a ver com a bandeira que Maria da Conceição segura numa esquina do centro da cidade. Ou não? É um emprego. Maria da Conceição honra-o. Tem muita gratidão à vizinha que a levou até o escritório que a contratou. No caminho, recebeu orientações: deveria falar à pessoa que fez a entrevista que era eleitora do homem que tinha o nome e o número na bandeira, mesmo que não fosse votar nele.

E Maria da Conceição não tinha nenhuma informação dele. Não sabia se era um homem honesto e trabalhador. Quando viu a foto dele num enorme cartaz pregado na parede, não sentiu confiança, não percebeu o coração aceitar aquele rosto com expressão sorridente, mas falsa. Mas prometeu a si mesma que, trabalhando para ele, se esforçaria para conhecê-lo. Se ele não fosse um homem justo, seguiria os conselhos da vizinha: "Trabalhe com honestidade e dignidade para ele, pois o seu papel não é nem de pedir voto para ele. É de apenas mostrar o nome e o número dele nessa bandeira que você vai segurar na esquina. Faça isso, é a sua função".

Assim fosse. Maria da Conceição, num estalo, sentiu que Deus a perdoria por precisar do emprego de uma pessoa em quem não confiava.

Por Walter Ogama

domingo, 4 de setembro de 2011

Conto - E o vento sopra - Primeira Parte

(produzido e publicado na campanha eleitoral de 2010)

Maria da Conceição está trabalhando. Sim, diz-se assim secamente, sem protocolo e nota introdutória: Maria da Conceição está no trabalho.

Porque trabalhar, para Maria da Conceição, não é nenhum sacrifício. É, antes de tudo, uma necessidade. Faz parte do cotidiano desta mulher, hoje com 47 anos, quatro filhos, o mais novo com 12 e a mais velha com 18.

Muito lá atrás, Maria da Conceição ainda menina, ela já labutava no meio do roçado, chapéu de palha para aliviar a queimadura do sol na pele do rosto, ainda que protegido com um lenço que descia dos cabelos e tinha o nó atado no queixo. Calejava as maõs com o cabo da enxada, mesmas mãos que ao entardecer esfregavam roupas sujas no tanque ao lado da casa.

Sempre assim. Depois da roça, na cidade Maria da Conceição fez de tudo um pouco. Varreu, lavou e passou em casas alheias, montou em ônibus de sacoleiros para trazer mercadorias e vender nas feiras, bordou, pintou e costurou na pretensão de ganhar com o negócio de artesanato.

Voltou para o emprego de doméstica depois que perdeu o marido, aquele que retorno para o Mato Grosso tocar fazenda de soja e nunca mais apareceu em casa para dar bom dia aos filhos e boa noite à mulher.

Conseguiu até carteira registrada no último emprego. Direito a passe de ônibus e, de vez em quando, de acordo com o humor da patroa, uma quase cesta básica. Ia tudo bem.

Mas o menino de 12 adoeceu de uma doença que médico nenhum sabia o que era. Desinteria um dia, ressecamento em seguida, febre de hora para outra, alucinações e uma espécie de uivo baixinho. Dizia a dona Carolina vizinha, meia que bruxa por causa de advinhação, que era doença de cabeça por causa da saudade do pai.

Sem cura, o menino estava um dia bom, mas no outro entregava-se à crise. Uma repetição de semanas e meses, até que a patroa dispensou Maria da Conceição por causa das faltas para socorrer o filho.

Ali é que aconteceu o que ninguém quer que aconteça. Com 46 anos, Maria da Conceição não conseguiu colocação. Até para empregada doméstica ela era considerada velha. E olha que Maria da Conceição, de pele morena, tinha uma aparência jovem e uma disposição de menina.

Só um ano depois, já batendo dois meses de completar idade nova, Maria da Conceição conseguiu um emprego de carteira registrada, direito a passe de ônibus e obrigação de aguentar sol na moleira e chuva nas costas.

Lá está ela, numa esquina, empunhando a bandeira de um candidato a governador que ela nunca viu, jamais soube de alguma coisa que ele houvesse trazido de bom para a sua gente, e nem alimenta expectativa de um dia ter qualquer benefício por ela ter, na campanha eleitoral, segurado a bandeira contra o vento, de forma que o nome do homem pudesse ser visto pelos motoristas que passaram por aquele lugar.

Por Walter Ogama

sexta-feira, 2 de setembro de 2011

Cronologia das mulheres brasileiras na política


Tudo começou em 1822, quando Maria Leopoldina Josefa Carolina, imperatriz do Brasil e arquiduquesa da Áustria, exerce a regência no lugar de Dom Pedro I e envia uma carta junto com outra assinada por José Bonifácio. No documento critica Dom João VI e o próprio marido, Dom Pedro, exigindo que ele proclame a Independência do Brasil.

Após um longo período, a professora Deolinda Daltro, fundadora do Partido Republicano Feminino, liderou em 1917 uma passeata exigindo o voto feminino. Dez anos depois, em 1927, o governador do Rio Grande do Norte, Juvenal Lamartine, consegue alteração na lei eleitoral dando direito de voto às mulheres.

Assim o primeiro voto feminino no Brasil e também na América Latina foi registrado no dia 25 de novembro daquele ano, no Rio Grande do Norte. Quinze mulheres votaram, mas tiveram os seus votos anulados no ano seguinte. Foi também no Rio Grande do Norte que foi eleita a primeira prefeita brasileira, Alzira Soriano de Souza, no município de Lages.

Mas só em 1932 o voto feminino foi finalmente oficializado pelo então presidente Getulio Vargas, que promulgou um novo Código Eleitoral. Um ano depois, em 1933, a paulista Carlota Pereira de Queiroz foi a única mulher entre 214 deputados eleitos para a Assembléia Constituinte.

Outro fato marcante ocorreu em 1979, quando Eunice Michilles, do PSD/AM, foi a primeira mulher a ocupar o cargo de senadora com o falecimento do titular da vaga. Passados nove anos, em 1979, o chamado Lobby do Batom, liderado por feministas e pelas 26 deputadas federais constituintes, conquista avanços na Constituição Federal garantindo igualdade a direitos e obrigações entre homens e mulheres perante a lei.

A primeira mulher eleita no Brasil para o cargo de senadora foi Júnia Marise, do PDT/MG, em 1990. No mesmo ano Zélia Cardoso de Mello torna-se a primeira ministra do Brasil.

Em 1994, Roseana Sarney é a primeira mulher eleita governadora, no Maranhão. Ela foi reeleita em 1998. Em 1996, o Congresso Nacional acrescenta na legislação eleitoral o sistema de cotas, que obriga os partidos a inscreverem, no mínimo, 20% de mulheres nas chapas proporcionais.

Em 1998, a senadora Benedita da Silva é a primeira mulher a presidir a sessão do Congresso Nacional. Em 2010, Dilma Roussef é a primeira mulher eleita presidente do Brasil.

quinta-feira, 1 de setembro de 2011

Ana escreveu parte da história da mulher brasileira


Ana Lins dos Guimarães Peixoto Bretãs era doceira de profissão. Estudou apenas as quatro primeiras séries e vivia longe dos grandes centros urbanos. Não tinha acesso aos livros, mas um dia tornou-se Cora Coralina, uma grande poetisa brasileira.

Nasceu na então cidade de Goiás em 20 de agosto de 1889 e faleceu no dia 10 de abril de 1985 em Goiânia. Publicou o seu primeiro livro quando já tinha 76 anos de idade, em junho de 1965, com o título Poemas dos Becos de Goiás e Estórias Mais. Mas desde quando tinha 14 anos de idade Cora Coralina escrevia textos que eram publicados em jornais da própria cidade e da região.

Em 1910 casou com o advogado Cantídio Tolentino de Figueiredo Bretãs e um ano depois teve que se mudar para o Estado de São Paulo por causa do serviço do marido. Viveu em Avaré, Jaboticabal e São Paulo. Anos depois ficou viúva e tornou-se vendedora de livros. De São Paulo foi para Penápolis, onde produziu e vendeu lingüiça caseira e banha de porco. Uma nova mudança a levou a Andradina e de lá pode, finalmente retornar para Goiás.

Após ter completado 50 anos de idade Ana Lins dos Guimarães Peixoto Bretãs assumiu o pseudônimo de Cora Coralina. Justificou que havia passado por uma profunda transformação interior, algo que em seguida explicou que seria a perda do medo.

No site http://www.mdig.com.br/index.php?itemid=2336, o trecho de um texto diz: “Senhora de poderosas palavras, Ana escrevia com simplicidade e seu desconhecimento acerca das regras da gramática contribuiu para que sua produção artística priorizasse a mensagem ao invés da forma.
Preocupada em entender o mundo no qual estava inserida, e ainda compreender o real papel que deveria representar, Ana parte em busca de respostas no seu cotidiano, vivendo cada minuto na complexa atmosfera da Cidade de Goiás, que permitiu a ela a descoberta de como a simplicidade pode ser o melhor caminho para atingir a mais alta riqueza de espírito.”

Um texto de Cora Coralina:

Não sei se a vida é curta ou longa para nós, mas sei que nada do que vivemos tem sentido, se não tocarmos o coração das pessoas.
Muitas vezes basta ser: colo que acolhe, braço que envolve, palavra que conforta, silencio que respeita, alegria que contagia, lágrima que corre, olhar que acaricia, desejo que sacia, amor que promove.
E isso não é coisa de outro mundo, é o que dá sentido à vida. É o que faz com que ela não seja nem curta, nem longa demais, mas que seja intensa, verdadeira, pura enquanto durar. Feliz aquele que transfere o que sabe e aprende o que ensina.”


(Cora Coralina)