A Cracolândia é, sim, uma guerra. Mas não desta forma como estamos assistindo, de polícia dando com porrete e evacuando a área. É uma guerra que o Estado deixou passar fazendo de conta que não interessa a ninguém. Do tipo, eles, os dependentes, que se danem...
Viu-se agora, tarde demais, que o buraco é mais embaixo. A repressão era necessária, mas depois de consolidado o trabalho de resgate desenvolvido por igrejas e entidades diversas. Menos o Estado, pois esta se colocou no seu lugar, lá em cima, e deixou as coisas acontecerem.
Por isso o trabalho desenvolvido por centenas de voluntários estancou. Sem apoio e correndo riscos, pessoas tentaram resgatar pessoas. O Estado ficou de fora. Não interessava a ela este tipo de pressão.
Agora poda-se o problema. Uma ação que é feita como se faz o corte superficial de uma mata nociva. Não se vai à raiz. Os dependentes saem da Cracolândia na porretada. Mas ocupam outros espaços, inclusive em cidades ao redor.
Ficam imunes da ação do Estado os que fabricam e negociam a droga. Ficam liberados os que traficam armas e também os que patrocinam a criminalidade. E olha que são muitos!
Recentemente um jornal de São Paulo que faz a cobertura da ação da polícia na Cracolândia se deparou com um problema. A capa do caderno que trouze três páginas sobre o assunto veio com o anúncio de um luxuoso empreendimento imobiliário. No mínimo irônico. Mas é o retrato.
A Cracolândia não compra casa em condomínio de luxo. E atrapalha o jornal a vender espaço publicitário de condomínio de luxo. Joga-se, assim, o problema para outro lugar. E enquanto este outro lugar não interessa aos empreendedores de qualquer coisa o Estado faz de conta que o problema não existe.
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