terça-feira, 31 de janeiro de 2012

Há quem pense que a lei só vale para os outros

Um exemplo besta, mas tão válido quanto outro de conteúdo muito nobre: se o uso de fio dental está proibido por lei no Brasil, a proibição vale para qualquer lugar: no campus da Universidade de São Paulo, na festa rural de Jaguapitã e no show da aposentadoria de Rita Lee.

Passamos recentemente por Jaguapitã num final de tarde de domingo. Ocorria em certo ponto da cidade uma espécie de rodeio. Ou coisa parecida. Trafegavam nas proximidades carros com som em volume elevado, conduzidos por pessoas com latas de cerveja nas mãos. A polícia estava por lá, enfileirada na beira da rodovia. Mas nada fazia. Pelo visto era uma festa da cidade e tudo era válido: som acima do estabelecido pelo Código de Trânsito e bebida ao volante.

Entre a festa de Jaguapitã, no Norte do Paraná, e o campus da Universidade de São Paulo há muitas léguas. Não só geograficamente, mas culturalmente. Lá um grupo de estudantes tentou politizar uma briga contra a Polícia Militar por causa da repressão ao consumo de drogas no local. Drogas proibidas por lei, cuja proibição valem para o campus da casa do saber, o rodeio de Jaguapitã e a festa de despedida de Rita Lee.

É verdade. As imagens na TV geraram interpretações: por que a polícia foi revistar pessoas do público bem na frente do palco da Rita Lee? Não que fosse proibido agir com um pelotão inteiro naquele local, mas parecem a escolha de onde agir foi propositalmente provocadora.

Mas podia. E se tivesse alguém fumando maconha em cima do palco a polícia podia subir e cumprir o seu papel lá. É lei que vale para todo mundo. O grupo de estudantes da USP desconhece isso. Acha que a lei é para os outros. O pessoal do rodeio de Jaguapitã, inclusive a Polícia Militar desconhece que a lei vale para todos. 

E a Rita Lee pensou, por acaso, que o seu show de despedida ocorria num recinto fechado?
O espaço era pago, mas aberto ao público. O show não acontecia na mansão de algum patrocinador, com a presença de convidados especiais. E mesmo dentro da mansão, se houvesse conhecimento da polícia, o consumo de drogas proibidas exigiria ação.

Temos pessoas que ainda pensam que as leis só valem para os outros... 

segunda-feira, 30 de janeiro de 2012

Não adianta improvisar: polícia é papel do Estado

Temos notícias que nos entristecem muito nos jornais desta segunda-feira, dia 30 de janeiro. Por culpa do sucateamento das polícias Civil e Militar em Londrina, a Guarda Municipal de Londrina atua como polícia.
Em um Estado democrático como é o nosso esse tipo de improviso é, além de temerário para a população londrinense, inaceitável. Nem vamos considerar as questões constitucionais. Vamos nos ater aos fatores práticos, principalmente quanto ao preparo dos funcionários da Guarda Municipal para agir em determinadas situações.

O fato do município ter conseguido autorização para armar os nossos guardas municipais não diz nada. Isso pode ser até mais perigoso para nós, cidadãos que trabalhamos e produzimos renda para a nossa Londrina.
Esta notícia triste é publicada com outras, mais preocupantes ainda. Uma delas a do vandalismo na Zona Leste da cidade, onde uma escola foi parcialmente destruída por um incêndio que, de acordo com as evidências, foi criminosa. Moradores teriam visto três jovens fugindo do local.

Só nesta notícia temos que considerar que, conforme a situação instalada, três polícias foram insuficientes para evitar o crime da escola incendiada: a Civil, a Militar e a Guarda Municipal. A Civil, faz-se justiça, tem caráter mais investigativo. A Militar seria a responsável pelo guarnecimento e ações repressivas.

E a Municipal? O que ela poderia fazer num caso desses? Andar pela cidade com viaturas novas parece não ter coibido a ação dos bandidos. E é isso que a corporação tem feito. Às vezes duas ou mais viaturas se concentram num mesmo local. Aos sábados, no Calçadão Central, esse tipo de cena é muito comum.

Os azuis (referência à farda azul) podem assustar alguns descuidistas, mas é fato que também põem medo, com suas carrancas de autoridades, em crianças puxadas pelas mãos das mães que atravessam o Calçadão após compras rápidas no comércio próximo.

Infelizmente, temos que avaliar assim, de um jeito cruel, mas realista, esta Guarda Municipal de Londrina. Isto porque a sua formação já foi com vícios que mobilizam o Ministério Público. Não pretendemos criticar as pessoas que nela trabalham após terem sido aprovadas em concurso público. Mas a essência da corporação, que necessita ser revisada da raiz.

São notícias tristes não somente por causa dos atrapalhos políticos registrados na intenção política e na concepção da segurança municipal. São tristes porque ranhuram com pontas afiadas o conceito constitucional e as ferramentas da democracia: o Estado não cumpre o seu papel e o município assume precariamente.

Isso, ao contrário de preocupar os bandidos, causa um alívio aos fora da lei. E pior: ao contrário de aliviar a população causa mais medo, receio, temor e todos os mais sinônimos que houverem para isso.

sexta-feira, 27 de janeiro de 2012

Letal, a escravidão moderna corre sorrateira por ai

Uma data de luta! O 28 de janeiro é o Dia Nacional de Combate ao Trabalho Escravo, instituído para homenagear os auditores fiscais do trabalho Erastóstenes de Almeida Gonçalves, João Batista Soares Lage, Nelson José da Silva e o motorista da equipe, Ailton Pereira de Oliveira. Eles foram assassinado no dia 28 de janeiro de 2004 quando verificavam denúncia de trabalho escravo na zona rural de Unaí, no Estado de Minas Gerais.

E vai que alguém duvide que há ainda trabalho escravo no Brasil. Ou que as ocorrências de trabalho escravo sejam esporádicas, de um caso ou outro num interiorzão do país. Só em 2011 os fiscais do Ministério do Trabalho resgataram 2.271 trabalhadores em situação de escravidão.

Além de registros de casos extremos, temos outras formas de escravidão nesta modernidade questionável. Dizemos isso porque a tecnologia está à disposição, mas de vez em quando, ou na maioria das vezes, é inacessível para uma maioria. Também porque a escravidão desta era digital nem sempre se faz com guilhotinas e trabalho forçado.

Na verdade, fundamentado na falsa leitura do capitalismo – este mesmo capitalismo que agora é motivo de debates no Fórum Econômico Mundial – os pseudo capitalismo trocaram os grilhões por uma arma muito mais letal: a pressão psicológica. Trabalha-se à revelia da jornada regulamentada para as profissões. E quem não fizer isso corre o risco de ficar desempregado.

Faz-se o que é dever da atribuição e muito mais. Se for preciso, o gerente varre o pátio, a recepcionista limpa as janelas, o encarregado de serviços bancários carrega pesadas caixas atravessando um trânsito neurótico. E diga não para ver o que acontece.

Alguns sindicatos viraram pró-forma. Só brigam pelo reajuste anual. Ocupam as mesas de negpociações e saem cantando vitória. Aspectos relacionados à dignidade do trabalho são desprezadas.

Enfim, a escravidão da era digital é muito mais nociva. E corre sorrateira nos locais de trabalho. Tão disfarçada que nem as próprias vítimas percebem que são escravas.

quinta-feira, 26 de janeiro de 2012

Davos discute geração de empregos e alimentação

A quantidade de pessoas que estão sem emprego e, portanto, fora do sistema, é uma grande ameaça ao capitalismo. O tema está em discussão em Davos, nos Alpes Suíços, no Fórum Econômico Mundial. São várias vozes proferindo a mesma fala, mas a manifestada na abertura deste texto é do professor da Universidade de Chicago, Raghuram Rajan.

Participam desta 41ª edição do Fórum Econômico Mundial 40 chefes de Estado e 18 presidentes de Bancos Centrais. Dentre as propostas em debate consta a da criação de empregos, que deve ser a prioridade dos próximos dez anos. Outra questão levantada: mais de 1 bilhão de pessoas passam fome hoje no mundo e, por isso, é urgente a necessidade de encontrar formas de garantir a segurança alimentar.

Lançadas as propostas por líderes das grandes potências, descobre-se que o Brasil está fora destas discussões por um representante de peso. A presidente Dilma Rousseff não está em Davos. E sabe-se que nem o ministro da Fazenda e o presidente do Banco Central Brasileiro estão no Fórum Econômico.

Ausências que provavelmente não serão sentidas por lá. Mas corre-se o risco de descobrirmos em tempos que fez falta ter se excluído do debate de questões que lá passam a ser prioridades. Aqui, tudo vai bem. Inclusive as denúncias diárias de escândalos na política e agora também no judiciário.


Emprego e abastecimento, de fato, são temas que só devem ser discutidos por grandes líderes.                                                                                                                                            

quarta-feira, 25 de janeiro de 2012

Nada se vê da bossa nova ao sertanejo de agora

Gosto não se discute. Isso é muito verdade. Mas cada pessoa tem o direito de gostar ou não gostar disso ou aquilo.

Vamos aproveitar que hoje, 25 de janeiro, é o Dia Nacional da Bossa Nova. Já ouviu falar disso, mano?
Na verdade, o termo bossa, na música brasileira, surgiu de um meio mais popular do que a bossa nova propriamente dita. Quem usou a palavra pela primeira vez em uma de suas composições foi Noel Rosa, nos anos de 1930, com o samba Coisas Novas. Um trechinho: “O samba, a prontidão / e outras bossas / são nossas coisas...”

Em seguida, deram o nome de bossa nova para o samba de breque, aquela paradinha improvisada que se dá no meio da música para falar alguma coisa. Então, de fato, bossa nova é de origem popular.

Mas só depois que a elite tomou o termo para si é que a bossa nova, como uma variação da música, tornou-se mais conhecida. E reforçamos: a música bossa nova saiu de um meio muito elitizado. Na verdade, a iniciativa de cantar bossa nova foi de um grupo de músicos da classe média carioca em um apartamento da zona sul. A difusão passou a ser mais forte a partir de apresentações em faculdades, onde a predominância era de pessoas da elite.

Ainda assim a bossa nova chegou a um público variado. Quem é que não se lembra da Nara Leão? Ela participava daquele grupo de músicos da classe média carioca, mas com seus shows e seus discos de vinil permitiu que muitos brasileiros tivessem acesso ao recado que ela dava cantando.

E a bossa nova também permitiu que outros gêneros e estilos musicais crescessem. A tropicália, por exemplo, surgiu com o desafio de mostrar que se podia fazer música de outro jeito, para ouvidos que pediam novidades. E Gilberto Gil desafiou muito bem, popularizando-se com a música Domingo no Parque, que é uma crônica inspirada e criativa de um cotidiano.

Depois vieram os Mutantes, também desafiando. E faz tempo, gente! Faz muito tempo depois dessas gerações que nada de novo aparece nesse universo musical brasileiro. 

terça-feira, 24 de janeiro de 2012

Emenda parlamentar X compromisso eleitoral

Entidades sem fins lucrativos costuma ser surpreendidas com emendas parlamentares que não estavam em seus planos. Às vezes a beneficiada está necessitando de recursos para uma reforma fundamental: a calha está danificada e em dias de chuva a água inunda tudo. Mas a emenda é para construir uma piscina e o dinheiro não pode ser utilizado no conserto das calhas.

Os recursos da piscina estão disponíveis. Basta a entidade elaborar o projeto sobre a necessidade dela e encomendar o projeto técnico. Mas a entidade descobre que depois de feita não terá recursos para fazer a manutenção da piscina. Por isso desiste dos projetos e perde os recursos.

O exemplo é grosseiro, mas foi feito assim para bem ilustrar o que ocorre. O pior não é isso. Depois, na campanha eleitoral, o parlamentar vai divulgar os seus feitos em um material impresso, no rádio e na televisão. E confira: aquela emenda que a entidade não pode usufruir consta da relação de benefícios que o político trouxe para a sua região.

Funciona mais ou menos assim: eu fiz a minha parte e se o beneficiário deixou de usar os recursos que eu consegui foi por falta de vontade dele. Infelizmente isso se constitui em uma prática que se permite através da legislação que dispomos.

Desta forma, não só a prestação de contas dos seus feitos – ou não feitos -, mas principalmente o uso indevida de terceiros para se promover políticamente é um chute na moral e na ética. Se não se caracteriza como um crime é, no mínimo, um desvio que causa muitos prejuízos e derruba expectativas como se fosse uma metralhadora vomitando balas.

Rajadas, isso mesmo! Algumas emendas parlamentares são termos de compromisso eleitoral. Assim como há aquelas cujas efeitos são gratificantes, outras são como vento e deixam rastros de mágoas. A calha continua danificada e o prédio goteja. A piscina foi um sonho de louco. E quem não sabe da história vota no político que supostamente ajudou fulano e sicrano trazendo uma melhoria que, no entanto, só ficou no papel.

segunda-feira, 23 de janeiro de 2012

Maracutaia de vereadores em matérias da Gazeta

A Gazeta do Povo traz um sua edição desta segunda-feira, dia 23 de janeiro de 2012, reportagem na página 15, Vida Pública, sobre vereadores e dinheiro público. O assunto é tratado na abertura da página na coluna Coro da Multidão. O título: “Para que serve o dinheiro público das câmaras municipais?”

No texto o articulista refere-se à matéria anterior produzida pelo jornalista Carlos Ohara, do próprio jornal, com o título “A farra das diárias engorda os salários dos vereadores”, que mostra indícios de fraude em reembolso de viagens nos legislativos dos municípios paranaenses. “Em 24 municípios de pequeno e médio porte, os parlamentares gastaram cerca de R$ 3,5 milhões com diárias de viagem. Em algumas cidades, os gastos com viagens se igualavam às despesas com salários. Em quatro municípios – Quatro Barras, Guaratuba, São Miguel do Iguaçu e Matinhos -, os vereadores receberam depósitos mensais de valores semelhante, o que poderia indicar uma forma de ocultar aumento de remuneração”.

Abaixo da dobra da página a continuidade da reportagem de Carlos Ohara trata de cursos que facilitariam o mau uso de diárias. Faz referência à empresas privadas que se sustentam com cursos para os legisladores. E cita o caso da Eleger, com sede em Curitiba, que forneceu um endereço no bairro Orleans, onde os moradores garantem que nunca funcionou uma escola.

Este ano é o do aperfeiçoamento da democracia. Já falamos disso em postagens anteriores. É a grande chance da virada. Será que teremos a quantidade suficiente de candidatos íntegros? Ou a culpa por tanta gente de má fé na política é nossa mesmo, por abrirmos mão dos nossos direitos? Temos que ficar de olho.

sexta-feira, 20 de janeiro de 2012

Nós, os contribuintes, esquecemos da nossa força

Leitor na seção de cartas do jornal sugere tarifa de ônibus a um real! O governo diz que a universidade é de graça! Dilma divulga com estardalhaço o aumento de beneficiários do bolsa família! Sim, em minúsculo. Tudo isso é subsídio!

Na tarifa do ônibus as concessões e as permissões são claras. O subsídio é cobrado de um jeito ou outro pelas concessionárias ou permissionárias. O ensino superior público, assim com o médio e o fundamental, são serviços do governo nas suas diferentes esferas e há quem pague por isso: os contribuintes é que bancam.

E vamos ver até que ponto somos contribuintes. No pão o imposto recolhido é pago por nós. Não é o comerciante que assume esse custo. Ele repassa. Na tarifa do ônibus o imposto está na planilha. O dono da concessionária ou da permissionária apenas repassa. No litro do leite o valor do imposto está embutido no preço da mercadoria. Não é a cooperativa ou a indústria que assume esse custo.

E assim por diante, em todos os itens de consumo e de serviços. Ah, saúde e educação são deveres do Estado e diretos do povo. Verdade? Claro! Nós, contribuintes, é que bancamos essas atenções que, aliás, nunca chegam a nós como deveriam chegar.

E se o preço do feijão sobe por causa da chuva ou da estiagem, lá vem o governo com um plano para estimular o plantio na próxima safra. Às vezes com juros reduzidos, outras com benefícios que no Brasil só a agricultura merece. Isso custa para o governo? Não, custa para o contribuinte, que banca qualquer plano, programa ou projeto do governo. Inclusive os chamados planos emergenciais.

E o Minha Casa, Minha Vida? Que governo maravilhoso que nada. O financiamento habitacional no Brasil é pago pelo trabalhador. É o nosso Fundo de Garantia Por Tempo de Serviço que levanta casas para populações de diferentes faixas econômicas.

Isso pode ser básico e repetitivo. Mas estamos em ano eleitoral e mesmo num pleito municipal é importante termos em mente que esta sociedade, como qualquer outra, é feita pelos cidadãos que pagam seus impostos.

Eles, os eleitos, são os responsáveis pelo gerenciamento desse dinheiro que passamos ao Estado ou ocupam funções de fiscalização e legislação para que o nosso dinheiro seja aplicado naquilo que interessa a todos.
E quem paga os altos salários dos parlamentares? Nós, os contribuintes. Inclusive as aposentadorias deles, que ao contrário das nossas nunca defasam. 

Este é um tipo de exercício importante para que sejamos conscientes na democracia: tudo o que é feito de bom é fruto do nosso trabalho; tudo o que é feito de ruim é por descuido nosso em relação à democracia. É conveniente assumir isso se queremos um Brasil melhor. 

Nós, os contribuintes, esquecemos da nossa força

Leitor na seção de cartas do jornal sugere tarifa de ônibus a um real! O governo diz que a universidade é de graça! Dilma divulga com estardalhaço o aumento de beneficiários do bolsa família! Sim, em minúsculo. Tudo isso é subsídio!

Na tarifa do ônibus as concessões e as permissões são claras. O subsídio é cobrado de um jeito ou outro pelas concessionárias ou permissionárias. O ensino superior público, assim com o médio e o fundamental, são serviços do governo nas suas diferentes esferas e há quem pague por isso: os contribuintes é que bancam.

E vamos ver até que ponto somos contribuintes. No pão o imposto recolhido é pago por nós. Não é o comerciante que assume esse custo. Ele repassa. Na tarifa do ônibus o imposto está na planilha. O dono da concessionária ou da permissionária apenas repassa. No litro do leite o valor do imposto está embutido no preço da mercadoria. Não é a cooperativa ou a indústria que assume esse custo.

E assim por diante, em todos os itens de consumo e de serviços. Ah, saúde e educação são deveres do Estado e diretos do povo. Verdade? Claro! Nós, contribuintes, é que bancamos essas atenções que, aliás, nunca chegam a nós como deveriam chegar.

E se o preço do feijão sobe por causa da chuva ou da estiagem, lá vem o governo com um plano para estimular o plantio na próxima safra. Às vezes com juros reduzidos, outras com benefícios que no Brasil só a agricultura merece. Isso custa para o governo? Não, custa para o contribuinte, que banca qualquer plano, programa ou projeto do governo. Inclusive os chamados planos emergenciais.

E o Minha Casa, Minha Vida? Que governo maravilhoso que nada. O financiamento habitacional no Brasil é pago pelo trabalhador. É o nosso Fundo de Garantia Por Tempo de Serviço que levanta casas para populações de diferentes faixas econômicas.

Isso pode ser básico e repetitivo. Mas estamos em ano eleitoral e mesmo num pleito municipal é importante termos em mente que esta sociedade, como qualquer outra, é feita pelos cidadãos que pagam seus impostos.

Eles, os eleitos, são os responsáveis pelo gerenciamento desse dinheiro que passamos ao Estado ou ocupam funções de fiscalização e legislação para que o nosso dinheiro seja aplicado naquilo que interessa a todos.
E quem paga os altos salários dos parlamentares? Nós, os contribuintes. Inclusive as aposentadorias deles, que ao contrário das nossas nunca defasam. 

Este é um tipo de exercício importante para que sejamos conscientes na democracia: tudo o que é feito de bom é fruto do nosso trabalho; tudo o que é feito de ruim é por descuido nosso em relação à democracia. É conveniente assumir isso se queremos um Brasil melhor. 

quinta-feira, 19 de janeiro de 2012

O celular toca e você não sabe se atende

Virou um dilema. Ontem uma amiga telefonou de Pernambuco. Vi o DDD 081 e deixei tocar. Minutos depois ela insistiu e eu deixei tocar de novo. Não atendi. É dessa região do Brasil que costumo receber mensagens de prêmios: casa do Domingão do Fasutão, caminhão de mercadorias do Magazine Luiza, carros do Gugu e assim por diante. Certa vez ligaram para avisar que eu havia sido sorteado num consórcio que não pago.

Se fosse verdade, eu estaria milionário de tantas premiações que eu levo sorte. Há um número da região de Fortaleza, com DDD 089, que não desiste. Sempre me premia com alguma coisa. Pesquisei na internet e vi que por ali existe uma penitenciaria. Também sei que na área do DDD 081 está instalado um presídio feminino.

Fosse só isso e estaria controlado. Mas ultimamente recebo ligações quatro ou cinco vezes ao dia do DDD 048. É um telefone fixo e por isso tentei atender. Mas quando atendo fica um silêncio e eu fico gritando alô. Nas pesquisas feitas na internet pessoas de todo o Brasil reclamam desta ligação. Alguns desses internautas dizem que é de uma operadora de telefonia e de TV por assinatura.

Em casa, no fixo, uma editora de revistas coloca os seus operadores de telemarketing trabalharem no escuro. O bina não identifica o número que está ligando. Aparece como desconhecido. E você não atende, porque tem medo de trote. É uma sacanagem da editora com as pessoas para quem liga e também com o pessoal do telemarketing.

Lembro que antigamente o telefone fixo era novidade. Então as pessoas faziam trotes. Se fossem somente crianças daria-se o desconto. Mas adutos telefonavam para sua casa e perguntavam se era do açougue. Quando a mulher atendia e dizia que não, o troteiro perguntava: então porque tem uma vaca ai? Nesse nível ou mais para baixo.

Agora o medo é da criminalidade. Ligam das penitenciárias, onde o aparelho de telefone não poderia entrar, para clonagem. A partir da clonagem o roubo pode ser somente dos seus créditos ou, na pior das hipóteses, os golpes do seqüestro que mesmo a pessoa sabendo ser uma armação fica preocupada com os parentes. E se for verdade?

O drama é que o celular, principalmente, está virando um treco que só pesa na bolsa da mulher ou faz volume no bolso do homem. As pessoas tem medo de atender. Só os números cadastrados na agenda do aparelho são recepcionados sem preocupação. O resto é motivo de desconfiança.

Virou um descontrole e autoridade nenhuma faz alguma coisa. Os aparelhos continuam a entrar nos presídios, as operadoras de telemarketing mantém seus procedimentos questionáveis ligando inclusive à noite e nos fins de semana, as operadoras de telefonia anunciam promoções questionáveis e a Anatel faz de conta que não é com ela. O povo que se vire (texto de Walter Ogama).

quarta-feira, 18 de janeiro de 2012

Empurra-se o problema para o lugar desinteressante

A Cracolândia é, sim, uma guerra. Mas não desta forma como estamos assistindo, de polícia dando com porrete e evacuando a área. É uma guerra que o Estado deixou passar fazendo de conta que não interessa a ninguém. Do tipo, eles, os dependentes, que se danem...

Viu-se agora, tarde demais, que o buraco é mais embaixo. A repressão era necessária, mas depois de consolidado o trabalho de resgate desenvolvido por igrejas e entidades diversas. Menos o Estado, pois esta se colocou no seu lugar, lá em cima, e deixou as coisas acontecerem.

Por isso o trabalho desenvolvido por centenas de voluntários estancou. Sem apoio e correndo riscos, pessoas tentaram resgatar pessoas. O Estado ficou de fora. Não interessava a ela este tipo de pressão.

Agora poda-se o problema. Uma ação que é feita como se faz o corte superficial de uma mata nociva. Não se vai à raiz. Os dependentes saem da Cracolândia na porretada. Mas ocupam outros espaços, inclusive em cidades ao redor.

Ficam imunes da ação do Estado os que fabricam e negociam a droga. Ficam liberados os que traficam armas e também os que patrocinam a criminalidade. E olha que são muitos!

Recentemente um jornal de São Paulo que faz a cobertura da ação da polícia na Cracolândia se deparou com um problema. A capa do caderno que trouze três páginas sobre o assunto veio com o anúncio de um luxuoso empreendimento imobiliário. No mínimo irônico. Mas é o retrato.

A Cracolândia não compra casa em condomínio de luxo. E atrapalha o jornal a vender espaço publicitário de condomínio de luxo. Joga-se, assim, o problema para outro lugar. E enquanto este outro lugar não interessa aos empreendedores de qualquer coisa o Estado faz de conta que o problema não existe.

terça-feira, 17 de janeiro de 2012

A opção é arbítrio de cada telespectador

Programas ruins de televisão e rádio só são mantidos porque têm patrocinadores. Patrocinadores somente mantém seus contratos com emissoras que levam ao ar programas ruins porque apostam em suas audiências. Infelizmente a audiência somos nós que proporcionamos.

O suposto estupro no BBB está dando mais Ibope ao programa. Até dizem que a notícia foi fabricada pela própria produção, diante da baixa audiência registrada nos primeiros dias.

Há quem diga que a moça que se diz estuprada está usando de estratégia ardilosa para se projetar. Também falam em racismo, pois o acusado é negro. Há inclusive protestos com tom racista.

Sem entrar nesse ou outro mérito e apelando para o vulgar: pornografia devia ser permitida somente em tevê por assinatura. Porque em canais pagos a pessoa desembolsa dinheiro para assistir o que quer: sacanagem, piada de pouca criatividade e besteiras afins.

Infelizmente o BBB, com todo respeito a quem assiste o programa, virou um palco aberto de sacanagem. E não é somente de sexo. Ali a moral e a ética são constantemente pisoteadas, a personalidade depravada é escancarada e vira troféu, a falta de escrúpulo e de dignidade e cotidiana.

Quando escreveu o livro 1984 (Ninetenn Eighty-Four) o jornalista e escritor Eric Arthur Blair, que ficou conhecido como George Orwel, imaginou no Grande Irmão um esquema de dominação do Estado a partir da vigilância da população.

Quem leu o romance ainda estremece ao lembrar de trechos em que o indivíduo ficava vulnerável a esse tipo de dominação, inclusive em relação ao seu pensamento. O romance foi concluído em 1948 e publicado em 8 de junho de 1949.

Ali se mostrou através de uma ficção, no estilo de distopia, aquilo que se opõe à utopia, que a dominação é perversa, pois interfere inclusive no psicológico de quem a sofre. A censura imposta nos anos negros no Brasil pela ditadura militar é prova disso.

Pois o BBB de Pedro Bial e da Globo é assim. Em relação aos participantes o programa desnuda-os e fragiliza-os. A nudez física torna-se pequena em relação à nudez inclusive espiritual. Pior do que isso. Em relação aos telespectadores, a nudez de conceitos é pior, pois a tendência é de transferir desejos e fantasias. Coisas que não fazemos por termos princípios tornam-se besteiras. Ou seja, não fazemos porque somos babacas. A televisão mostra que todo mundo pode fazer.

Assim abaixamos o nível. Mostramos a quem quiser as nossas fraquezas. Caímos no submundo moral e aplaudimos. Se a TV é dominação então o BBB está conseguindo. E deixamos as contas para pagar depois que um dos participantes levar o grande prêmio. E os problemas? Oras, com tanta sede de sacanagem por que é que temos que ligar para as nossas dificuldades cotidianas? Não é assim, grande irmão?

segunda-feira, 16 de janeiro de 2012

O medo chega às residências dos vizinhos

Converso com uma pessoa que julgo ser esclarecida sobre reportagens publicadas semana passada pelo Jornal de Londrina e Folha de Londrina. Na verdade, um balanço de 2011 sobre o aumento no número de denúncias de violência doméstica a partir da maior divulgação da Lei Maria da Penha e de campanhas de esclarecimentos feitas por entidades diversas.

Comparo com a pessoa que o Jornal de Londrina trabalhou o assunto com lisura e acerto, enquanto a Folha errou ao não apresentar dados sobre o aumento da violência e somente se ater aos dados da Polícia Militar e da Delegacia da Mulher e afirmar, em seu texto, inclusive na chamada de capa, que aumentou a violência contra a mulher.

Errado porque a análise fornecida pela própria polícia foi do aumento de registros de casos. A polícia não tem informação sobre o aumento de casos, o que é muito diferente. De repente a pessoa me diz que a maioria das vítimas ainda não denuncia. E relata o caso de uma vizinha, que estaria sofrendo agressões do parceiro.
Segundo esta pessoa, ela não ousa telefonar para a polícia porque o agressor é conhecido na vizinhança como um homem violento e ameaçador. A sua postura estaria ligada à segurança de sua família. O receio seria de uma represália, com ação violenta, do agressor.

Não deixa de ser uma omissão. Significa que o indivíduo representa risco não só para a companheira agredida, mas para todos os vizinhos. E se há medo de telefonar para a polícia, Londrina dispõe de entidades que podem orientar sobre a forma mais segura de resolver o problema.

Então fico imaginando que a Lei Maria da Penha esbarra ainda não apenas entre as pessoas que pelo destino de dificuldades são menos esclarecidas. Há gente que tem como participar dessa marcha contra a violência e se cala. E pelo que se percebe, no depoimento dessa pessoa com quem conversei, que esse silêncio acorrenta e muito (texto de Walter Ogama).

sexta-feira, 13 de janeiro de 2012

A saúde pública vista pelo contribuinte

A Confederação Nacional da Indústria (CNI) divulgou esta semana resultado de pesquisa com os brasileiros sobre a saúde pública. Entre as conclusões: 96% rejeitam criação de novo imposto para a saúde; 61% reprovam o atendimento público; 55% reclama de demora no atendimento; 10% queixam-se da falta de equipamentos e unidades de saúde; 9% reclamam da falta de médicos; 82% exigem que o governo acabe com a corrupção para que sobrem recursos para a saúde; 53% pedem a redução de desperdícios; 18% sugerem a transferência de recursos de outras áreas para a saúde; 96% não concordam com um novo imposto para bancar o setor.

Feita em parceria com o Ibope, a pesquisa da CNI ouviu 2002 pessoas em 141 municípios no período de 16 e 20 de setembro do ano passado. Outra conclusão que deve ser levada em conta: 85% dos entrevistados disseram que a saúde não apresentou melhora nos últimos três anos. Pior ainda: 43% responderam que houve piora na saúde pública no período.

É bom lembrar que quando a pesquisa foi feita as notícias sobre a tentativa do governo federal de criar um novo imposto eram freqüentes. Podemos dizer que os resultados deste levantamento expõem, de forma clara, o entendimento da população brasileira em relação aos gastos do dinheiro público.

A corrupção, com capítulos novos e diferentes personagens faz parte deste entendimento. Os altos salários dos políticos e de alguns funcionários estatais é outro elemento que pesa. Diríamos, assim, que sabemos: se não há mais recursos para a saúde, não é pelo fato do dinheiro dos cofres públicos estar em baixa. É porque boa parte do que os contribuintes pagam em tributos é mal usado. Portanto, o governo que faça a sua faxina e acerte, paralelamente, o seu caixa.

quinta-feira, 12 de janeiro de 2012

Informação equivocada sobre a violência doméstica

Jornal de Londrina e Folha de Londrina publicaram nesta quinta-feira, dia 12 de janeiro de 2012, reportagens sobre o balanço da Polícia Militar e da Delegacia da Mulher sobre denúncias registradas em 2011.

O Jornal de Londrina acertou. Com bases nos números e nas interpretações apresentadas pelas fontes, concluiu que os registros de ocorrências de violência doméstica cresceram graças à Lei Maria da Penha e as campanhas contra a violência contra a mulher.

A reportagem do Jornal de Londrina, assinada pela jornalista Telma Elorza, é enriquecida com o depoimento do psicólogo e doutor em violência, Alex Gallo, que diz: As pessoas estão mais conscientes que é preciso denunciar os casos de violência.

As informações básicas da matéria, que transcrevemos da capa do jornal: “Em 2011, hove crescimento de 69% nas comunicações desse tipo de crime à PM, que totalizaram 191 casos. Na Delegacia da Mulher, em 2011, foram instaurados 776 inquéritos, crescimento de 31,75%”.

A Folha de Londrina teve acesso aos mesmos números e às mesmas fontes da Polícia Militar e da Delegacia da Mulher. Estas fontes, conforme o texto da Folha, dizem que a Lei Maria da Penha é fundamental nesse aumento das denúncias. De diferente, a Folha ouve a Secretaria da Mulher, onde os números de denúncias não cresceram.

Na baianada, a Folha diz que aumentou o número de violência contra a mulher, quando todas as evidências e as afirmações das pessoas ouvidas dizem que o que teve o aumento foram os registros de casos nas polícias.

Falta de análise e de interpretação. Falta de experiência da jornalista que produziu a matéria e falta de conhecimento do editor da matéria e do editor de capa. Erro grosseiro. Sim, a violência também pode ter aumentado, mas em nenhum momento a reportagem mostra que isso ocorreu.

quarta-feira, 11 de janeiro de 2012

Evasão no ensino médio revela omissão do Estado

Sim, temos um problema! A solução cabe ao Estado, mas sem o nosso grito as providências são mais demoradas e correm o risco, neste ano eleitoral, de serem jogadas para não se sabe quando. Aliás, o ideal seria que o problema não existisse. Mas só poderíamos gozar de tal situação de conforto se tivéssemos um Estado capaz e bem intencionado com a sua população.

Não é assim que acontece. E o problema é sério. Na edição desta quarta-feira, dia 11 de janeiro de 2012, a Folha de Londrina traz na página 6, de Geral, a reportagem com o título “Pesquisa aponta evasão de 45,5% no Paraná”. A linha fina diz: “Levantamento do IPEA mostra que Estado não mantém frequência de alunos do Ensino Fundamental no Ensino Médio”.

Pois é. A reportagem merece capa da edição, como manchete. Assinada pelo jornalista Vitor Ogawa, informa que o Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (IPEA) divulgou na terça-feira, dia 10 de janeiro, o resultado do levantamento que é feito com dados da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílio de 2009, do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).

Um trecho da reportagem: “Entre os alunos de 6 a 14 anos no Ensino Fundamental a frequência registrada foi de 92,8%, mas esse índice cai para 54,5% quando são analisados dados relacionados ao Ensino Médio”.
A matéria inclui o depoimento de uma especialista, a professora de pedagogia da Universidade Estadual de Londrina, Adriana Regina de Jesus. Ela é diretora do Colégio de Aplicação da UEL e doutora em educação. Em resumo, a especialista diz que as escola de ensino médio já não atendem mais as necessidades dos alunos de ensino médio, principalmente em relação à tecnologia.

Enfim, esse é um papel do Estado a ser cumprido com dinheiro do contribuinte. Prover a educação de tecnologia e acesso a ela, sobretudo em relação aos professores e funcionários dos estabelecimentos de ensino, estes que ficam na frente de carroças tentando ligar computadores e acessar a internet. 

terça-feira, 10 de janeiro de 2012

Começa a temporada do desbunde e da pobreza

Quem somos nós para julgar o gosto de terceiros? Ninguém e nada. Mas também não nos cabe a alienação ou, no mínimo, a omissão sob a desculpa do “eles que se danem”.

O silêncio pode ser uma arma fatal para nós mesmos, principalmente quando a cultura está em questão. Estamos falando dessa cultura que é o nosso dia a dia. A cultura do cotidiano, de saber o mínimo necessário para não ser enganado. De ter informação suficiente para ser correto, ético, moral e, sobretudo, cidadão.

Cultura! A elite costuma dar um conceito dimensional para ela. Assim, de acordo com este enfoque elitizado, cultura é coisa de nobre. Ou, no mínimo, de quem tem possa para adquiri-la. Paga-se bem pelo ingresso a um espetáculo de teatro ou música e vai-se embora dizendo que é uma pessoa de cultura. Quando na verdade a preferência é por um sertanejo universitário.

A elite não gosta que o povão tenha acesso à cultura. Antigamente, na ditadura, o receio de dar cultura ao pobre era dela, a cultura, estar recheada de conteúdo ideológico. Então a cultura, quando chegava aos bairros de periferia, era por grupos independentes que tinham objetivos claros, de levar consciência a todos.

Era mais um trabalho de formação política e ideológica. Era um projeto. Até Chico Buarque, que nunca fez um show de graça para pobre, ganhou muito dinheiro cantando as dores que o regime militar provocava na população brasileira. Vinicius de Morais pelo menos assumia: o negócio dele não era cantar a dor dos outros. Vinicius cantava a praia e as mulheres de lá. E os próprios detentores da cultura aplaudiam tudo, de Tom Jobin a Caetano Veloso, mesmo se eles defendessem por acaso, de público, que cultura é coisa nobre e não é para todo mundo. Não estamos dizendo que estes caras disseram isso.

Assim chegamos a mais uma edição do BBB. Estamos numa democracia, inclusive na hora de desligar ou ligar o aparelho de TV. Se todos tivéssemos condições para pagar assinatura de TV a cabo, é provável que os pacotes caríssimos nos dariam alternativas. Mas não é assim.

Ninguém está proibido de assistir TV na hora do BBB. Mas é bom, entre a nudez dos participantes, as sacanagens e os pedidos do apresentador para acionar o telefone para votar em um ou outro, puxar um pouco de bom senso e racionar que é tudo um jeito de ganhar dinheiro do povo, que somos nós, com um programa que em nada nos ajuda culturalmente.

Agora, se a opção é ver mulher ou homem desbundando, isso é entretenimento e cada um fique à vontade. Ainda assim, repetimos, a boa dose de consciência é muito salutar. Lembrem-se: eles nos querem cegos e preferem que a gente só enxergue bunda na frente. E vamos usar os créditos do celular para votar, pois isso enriquece os patrocinadores e a emissora.

segunda-feira, 9 de janeiro de 2012

Vamos, juntos, dar um basta na letargia política

A história é parceira quando resgatamos fatos marcantes do passado para lições do presente. Então lembremos: no dia 9 de janeiro de 1881 entrou em vigor o Decreto número 3.029, que teve como redator final o deputado geral Rui Barbosa. Esse decreto ficou conhecido como Lei Saraiva, em homenagem ao responsável pela primeira reforma eleitoral brasileira, o ministro do Império José Antônio Saraiva.

A Lei Saraiva instituiu pela primeira vez no Brasil o Título de Eleitor, aquele documento que o brasileiro nem usa mais hoje em dia nas eleições.  Também proibiu o voto dos analfabetos e estabeleceu eleições diretas para todos os cargos eletivos do Império, como o de senadores, deputados da Assembléia Geral, membros das Assembléias Legislativas das Províncias, vereadores e juízes de paz.

Vejam que a democracia, mesmo em sua forma relativa, faz parte da história do Brasil desde o período imperial. A Lei Saraiva, por exemplo, completa neste janeiro de 2012 131 anos de existência.
Hoje, em plena vigência da democracia representativa, em que o papel do eleitor é escolher homens públicos que o representam nas diferentes esferas do poder, ainda somos obrigados a admitir que pecamos, e muito, quando a questão é o exercício dos nossos direitos de cidadãos.

Pois pensamos que o nosso papel democrático começa na campanha eleitoral e termina no momento que apertamos a tecla verde da urna eletrônica. Que equívoco! Na verdade, o aperto dessa tecla é praticamente o início do nosso papel na democracia. Depois, como cidadãos que convivem numa democracia representativa, temos a obrigação de pelo menos fiscalizar a atuação daqueles que foram eleitos, com ou sem os nossos votos.

E querem ver porque pecamos? Se estivéssemos ao menos exercitando a fiscalização não teríamos tantos casos de corrupção. Os próprios homens públicos teriam mais cuidado. E aqueles que não são honestos fatalmente deixariam de disputar vagas eletivas.

Vamos, juntos, enriquecer esta idéia e transformá-la em uma bandeira? Que tal?

sexta-feira, 6 de janeiro de 2012

Mundo festeja mais uma vitória da mulher

Vejam que interessante: “A burca das sauditas nunca garantiu proteção contra o constrangimento na hora de escolher o item mais íntimo do guarda-roupa de uma mulher. Cobertas da cabeça aos pés, muitas deixaram de comprar lingerie em lojas para evitar a exposição diante de vendedores homens – os únicos que podiam exercer tal função. Até ontem (5 de janeiro de 2012). Uma lei saudita de 2006, que entrou em vigor apenas ontem, não só permite que lojas de roupas íntimas e de departamento contratem vendedoras, como proíbe que as consumidoras sejam atendidas por homens”.

O trecho é de matéria publicada na edição desta sexta-feira, dia 6 de janeiro de 2012, na página A11 da Folha de S.Paulo. Prossegue: “A decisão foi vista como uma conquista na luta por igualdade de gênero no país. A questão já tinha sido mote da campanha ‘Chega de constrangimento’, divulgada pelo Facebook”.

Segundo a matéria da Folha de S.Paulo, a lei deve abrir até 40 mil vagas para as mulheres sauditas, “que ainda têm um estreito leque de opções de trabalho”. Se houve comemoração da mulher saudita, o lado conservador já deu o seu grito. O xeque Abdul-Aziz Al Sheikh, considerado o clérigo mais importante do país, acha que a nova lei é uma afronta à lei islâmica.

A matéria transcreve a posição desse cara: “O fato de mulher ficar cara a cara com um homem para vender a ele sem qualquer vergonha pode levar a transgressões, que serão cobradas dos proprietários das lojas”.
Cá para nós: acorda xeque. Esta conquista já está selada. Pelo menos isso, não? Porque ainda somos obrigados a ler e ouvir que algumas civilizações atrasadas condenam mulheres acusadas de adultério à morte por apedrejamento. 

quinta-feira, 5 de janeiro de 2012

Jornal tem que mostrar a cara e a realidade

A Editoria de Economia da Folha de Londrina merece menção pela publicação da reportagem “Cesta sobe 10,26% em Londrina e ‘corroe’ reajuste do mínimo”. Este tipo de abordagem seria, na verdade, item das pautas de todos os veículos de comunicação, sejam impressos, rádio, televisão e internet. Mas, em alguns casos, percebe-se flagrante preservação de interesses através da omissão.

É comum lermos nas capas dos jornais chamadas eufóricas sobre redução do desemprego de acordo com os institutos que de uma forma ou de outra estão ligados ao governo. Os próprios indicadores da economia são tratados assim.

É bom que fique claro: não são os institutos de pesquisa que erram. Eles trabalham com metodologias cientíticas e apresentam os números de acordo com elas. Erram, sim, aqueles que manipulam os resultados e nisso os meios de comunicação costumam estar envolvidos.

Às vezes um levantamento sobre o emprego e o desemprego apresenta resultado positivo em relação a algumas poucas faixas salariais e categorias profissionais. Mas a matéria que se publica ou se leva ao ar é produzida tão aporcalhadamente que as informações são de que tudo está muito bem para todos. E os patrocinadores desses números, que não é o instituto de pesquisa, mas o governo, gargalha aliviado pela complacência dos meios de comunicação.

Temos que dizer que às vezes esse enfoque generalizado é por preguiça. Em outras ocasiões por desmazelo. Mas pode ocorrer por tendência escandalosamente governista. Essa tendência, é bom que se frise, tem um preço elevado. E esse custo não é o governo quem paga. Somos nós, os contribuintes, que desembolsamos.

Estamos, enfim, nos referindo aos meios de comunicação que vivem da subvenção do Estado. Por isso produzem de acordo com os interesses desse Estado que subvenciona. A Folha de Londrina, com uma equipe jovem, parece crescer para o jornalismo. Tomara que seja isso mesmo. 

terça-feira, 3 de janeiro de 2012

Esperar que eles façam é bobagem das grandes

Entre os balanços que os grandes jornais brasileiros começam a divulgar neste início de ano, para se safarem da paradeira nos chamados nichos das notícias por causa do recesso no Congresso Nacional, nas assembléias legislativas e nas câmara municipais, surgem as oportunas matérias sobre o que fez a presidente Dilma Rousseff em 2011.

Sim. É assim que alguns jornais tratam os assuntos: não é o governo quem faz, é a Dilma. Lemos hoje, dia 3 de janeiro, que Dilma ampliou o Bolsa Família. Significa mais dinheiro injetado no programa e mais pessoas beneficiadas. Na semana passada vimos que Dilma abriu o leque dos beneficiários do Minha Casa, Minha Vida. E assim vai.

O que se esperava deste governo era uma política menos assistencialista. Claro, a pobreza extrema tem que ter um programa ponta de lança, mas a partir dele outros, com enfoque mais produtivo, devem ser colocados em prática para evitar vícios.

Mas temos que considerar que vícios fazem vitoriosos nas urnas. E são várias espécies de vícios: a barganha do voto por uma churrascada de confraternização, uma cesta básica, um emprego garantido ou, no modelo atual, a garantia de manter um benefício.

O problema é que nestes últimos nove anos o Brasil mudou de cara abruptamente. Estamos, agora em 2012, vivendo uma república do assistencialismo. Pior: somos também a república das cotas, e nisso os nossos parlamentares tem culpa. E viramos o país das migalhas: damos moradias precárias e cobramos pouco por elas. Quem paga, na verdade, é o trabalhador, que banca inclusive o pagamentos das empreiteiras que viram no Minha Casa, Minha Vida um jeito de ganhar dinheiro sem ter trabalho para vender seus produtos.

A mudança foi brusca. Antes desses nove anos o governo que se instalou queria que a população fizesse o que é dever do Estado. O governo tucano de FHC criou o incentivo ao voluntariado. Mas de um voluntário idiota, que ia aos domingos e feriados consertar telhado de escola. Os tucanos queriam voluntários que não enxergam e não sentem. Portanto, não raciocinam, não tem consciência e não são cidadãos. Melhor dizendo, um falso voluntário.

São mais de uma década de desacertos. Esperar que eles acertem é bobagem. Nós é que vamos ter que gritar. E só há uma forma de dar esse grito: assumindo o nosso papel de cidadão. Já é hora de mostrar aos políticos que estamos percebendo tudo.