quarta-feira, 9 de novembro de 2011

Para que sabedoria se é possível agitar?

Em 1968, quatro anos após instalado o regime militar no Brasil, um confronto na Rua Maria Antonia, em São Paulo, resultou na morte de um estudante universitário. O epsódio passou a ser conhecido como Batalha do Maria Antonia.

A causa teria sido a cobrança de pedágio por estudantes do curso de Filosofia da Universidade de São Paulo (USP), para angariar fundos necessários à realização de um congresso da União Nacional dos Estudantes (UNE).

Funcionavam na Maria Antonia a Filosofia da USP e os cursos do Mackenzie, que pertence a uma instituição religiosa. Os estudantes do Mackenzie eram contra o pedágio imposto pelos alunos da USP. O conflito começou com provocações verbais.

De repente alguém do Mackenzie atira um ovo sobre uma turma da USP, que revida com pedras. A batalha estava armada, com empurrões, socos, pontapés, impropérios, bolsadas e a morte de um estudante. Até coquetéis molotov (bombas de fabricação caseira) foram usadas no confronto. Uma espécie de ensaio do que iria acontecer já havia se registrado na data anterior, com certa dose de violência entre as partes.

A Batalha do Maria Antonia, que ocorreu no dia 3 de outubro, foi na verdade apenas o estouro de uma bomba que mantinha em estado de tensão velada a esquerda e a direita do movimento estudantil brasileiro.
A esquerda, mais do que melhores condições de ensino, brigava contra a ditadura militar e tentava reativar a UNE, que havia sido extinta pelo regime. A direita havia se instalado no Mackenzie com o reforço dos organismo anticomunistas, como o Comando de Caça aos Comunistas, Frente Anticomunista e Movimento Anticomunista.

Esses organismos já haviam se manifestado contra os alunos da USP. Em uma das ações os estudantes do Mackenzie ligados ao Comando de Caça aos Comunistas invadiram a sede da Faculdade de Filosofia da USP e espancaram alunos e destruíram móveis e vidraças.

Outra invasão dos anticomunistas foi registrada durante uma eleição da União Estadual dos Estudantes, cuja sede funcionava na Faculdade de Filosofia da USP. Até a urna de votação foi destruída pelos invasores. Outras invasões e destruições também foram registradas antes do epsódio de 3 de outubro de 1968, que envolveu cerca de três mil estudantes do Mackenzie e dois mil e quinhentos alunos da Faculdade de Filosofia da USP.

Além da morte do estudante secundarista José Guimarães, de 20 anos, a Batalha do Maria Antonia terminou com a destruição de toda a fachada da Faculdade de Filosofia, passeatas, protestos e, praticamente, o início de ofensivas declaradas entre os movimentos de esquerda e de direita: 1968 foi o ano das grandes mobilizações. Mobilizações com causas no Brasil e no Mundo.

Nada parecido com o movimento de agora no campus da USP, que culminou com a prisão de 73 estudantes. Estes brigaram por uma causa que poderia ser resolvida com posicionamento político dos estudantes, o sim ou o não à presença da Polícia Militar dentro de uma instituição de ensino superior.

Erro não só dos estudantes, que vestiram a carapuça de terroristas por um motivo nada político, e erro do governo. Este mesmo governo, na ditadura militar, bancou o custo de polícias nas universidades para fichar e prender estudantes que eram contra o regime militar. E agora fogem do diálogo e das negociações diante de um movimento estudantil sem sabedoria para se impor.

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