terça-feira, 29 de novembro de 2011

Faculdade pública só para quem pode

No oba oba e num enfoque jornalístico oficioso, alguns jornais tratam a notícia de acordo com interesses que não são da maioria da população. Alguém patrocina a abordagem direta ou indiretamente. Às vezes com um contrato comercial para publicação de anúncios. Isto nada tem a ver com o jornalismo, mas há fraquezas que causam muita confusão e mancham a ética.

Tomemos o exemplo da cobertura de um vestibular. O enfoque tradicional é aquele, muito viciado: quantos candidatos, é o maior número de inscritos, como os cursos preparatórios estão trabalhando os seus alunos, locais para hospedagem, alimentação, trânsito, horários e assim por diante. Claro: alguns dos itens citados são de serviços e este são indispensáveis.

Depois, quando o vestibular começa, a preocupação é com os desistentes, os lances de pessoas que chegam atrasadas, o candidato mais velho e essa coisa molenga que em todos os vestibulares são tratados com entusiasmo por alguns jornais e seus jornalistas.

Damos o braço a torcer para as páginas de Vida e Cidadania da Gazeta do Povo, edição de 28 de novembro de 2011. A manchete é: “Ensino superior público oferta poucas vagas para quem trabalha”. A reportagem é assinada pelo jornalista Diego Antonelli.

O autor busca dados do Censo da Educação Superior de 2010 e escreve na abertura do seu texto: “A evolução nas taxas de matrículas do ensino superior mostra que as instituições públicas ainda não se adaptaram para receber estudantes que são obrigados a conciliar estudos e trabalho”.

Sim, é pura verdade. Por isso o ensino superior público no Brasil tem essa cara de coisa para classe média para cima. Porque os bons cursos são em período integral. E mesmo aqueles de meio período tornam-se inacessíveis para a maioria das pessoas que trabalham em jornada convencional.

Prossegue o texto: “Apesar de 63% dos quase 5,5 milhões de vagas serem destinadas ao período noturno em todo o Brasil, segundo o Censo da Educação Superior de 2010, a maioria delas se concentra nas particulares. No ano passado, os cursos noturnos da rede federal respondiam por 28% do total de vagas, contra 25% registrados em 2001”.

O jornalista lembra em seu texto que o Ministério da Educação lançou em 2007 um programa que incentiva as universidades federais a criarem cursos noturnos. Mas “o aumento na oferta não foi suficiente para que essas vagas ultrapassassem 30% do total”.

O pior é que a maioria dos cursos noturnos das instituições de ensino superior da rede pública, estaduais ou federais, são distantes da realidade do mercado de trabalho e, consequentemente, dos trabalhadores que querem concluir a faculdade. Muitos, por falta de opção, freqüentam um curso e chegam ao diploma. Mas não conseguem exercer a profissão.

É preciso repensar e refazer. E isso não depende só do governo. Os conselhos universitários tem a obrigação de analisar primeiramente o papel da instituição de ensino superior pública. É para bancar faculdade somente para a classe média com dinheiro de todos?

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