segunda-feira, 3 de outubro de 2011

Olhos fechados para a verdade das nossas ruas

Merece atenção a reportagem publicada nesta segunda-feira, dia 3 de outubro de 2011, na página 5 – Geral, da Folha de Londrina. Com o título “Prostituição – Escravas das ruas de Londrina”, a produção jornalística assinada pela profissional Micaela Orikasa trata de um sério problema que a sociedade, às vezes, faz de conta estar preocupada através de mecanismos legais públicos ou filantrópicos e privados. Mas o que se vê na prática é justamente o que está escrito na abertura do texto:

“Percorrer alguns pontos de Londrina pode revelar uma realidade que muitos desconhecem ou preferem não enxergar: a prostituição infantil”. Não há, infelizmente, que colocar reparo. A verdade é o que está escrito. Talvez o desconhecimento a que a repórter esteja se referindo sirva mais como atenuante para o termo desconsideramento, embora esta palavra nem exista oficialmente. Então, de acordo com as regras, em vez de desconhecer boa parte das pessoas enxergam o problema como algo que é alheio, não é problema meu.

Prossegue o texto: “Com uma estrutura corporal que deixa evidenciada a pouca idade, essas meninas abordam ou são abordadas em plena luz do dia, em locais de grande circulação de veículos e caminhões”. Dentre esses lugares a reportagem aponta a Avenida Brasília, perto da Vila Marizia; na Vila Yara, localizada na zona leste da cidade entre outros.

A venda do corpo é muitas vezes para a compra de drogas, como o crack. Em um dos depoimentos mencionados, um homem diz à reportagem que já saiu com uma menina por apenas dois reais. Um educador social ouvido pela equipe da Folha de Londrina afirma: “Nós temos adolescentes na faixa de 12 a 16 anos que cobram o valor de uma pedra de crack”. E a pedra de crack custaria cinco reais.

Em outro depoimento, uma avó pede socorro e confessa que já não sabe mais o que fazer para tirar a neta de dezesseis anos de idade das drogas e da prostituição. No pé da página, há uma lista de telefones dos locais onde as pessoas devem denunciar a exploração sexual e a prostituição de menores: CREAS III – 3336-2003; Conselho Tutelar – 9991-6752; Promotoria Pública – 3372-3157. Além disso, consta o telefone normal da Polícia Militar.

Cabe aqui um alerta: costumamos ser voluntários atendendo campanhas de enchentes, de igrejas e do próprio poder público. Em alguns casos o voluntariado assume papéis que são obrigações do Estado. Condomínios riquíssimos, por exemplo, ajuntam seus moradores para organizar e bancar os custos de uma segurança privada. Escolas em péssimas condições às vezes são consertadas nos finais de semana pelos pais.

O Brasil precisa de voluntários também para pessoas que precisam do voluntariado. As meninas que geraram a reportagem da Folha são vítimas. E há pessoas que testemunham isso, mas nem se dão ao trabalho de discar o número de denúncias.

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