A realidade é crua. Assim como nos natais, muitas crianças brasileiras terão um 12 de outubro branco. É certo que parte delas receberão carrinhos, bonecas, bolas, jogos eletrônicos, computadores ou bicicletas. Mas nem todas merecerão junto com os pacotes a dose necessária de amor. Da mesma forma, algumas receberão abraços, beijos e afagos carinhosos e sinceros, mas faltará um objeto caprichosamente embrulhado.
Esta diferença entre a expressão com um presente físico comprado nas lojas de departamento e o amor manifestado pelos adultos é algo muito difícil de compreender e de explicar. Acontece até com quem já é grande: faça de conta que hoje é o seu aniversário e nem os parabéns de uma grande amiga ou de um grande amigo chegaram. Ou imagine que o seu esposo ou a sua esposa esqueceram de comprar um presente para comemorar juntos.
Datas comemorativas nem sempre são criadas por causas justas. Ou mesmo quando os motivos são nobres a própria sociedade, da qual fazemos parte, trata de criar desvios. Assim, o apelo comercial torna-se mais forte e as vésperas dos natais e dos dias dedicados às crianças viram períodos de correrias às lojas.
Este apelo vira regra e ganha status de tradição. Tradição que não pode ser cumprida por todos porque há desemprego, há baixos salários, há contas a serem pagas e às vezes nada sobra para a compra dos presentes. Como fazer uma criança entender que a bola que ela tanto queria vai ficar para depois porque papai está sem emprego e mamão tem que destinar todo o seu pagamento para comprar alimento?
Resta-nos a esperança de termos, nós adultos, a sabedoria suficiente para transformar o amor que temos por nossos filhos em um sentimento soberano. Ainda assim corremos o risco de não sermos entendidos. É o preço que temos a pagar, pois permitimos que se chegasse a esse ponto.
Conferimos na semana passada os dois jornais que circulam em Londrina. Num deles a Semana da Criança foi chamada com reportagem sobre as brincadeiras que contribuem para a sociabilização e a compreensão do coletivo (Folha de Londrina). No outro jornal a preocupação foi com a entidade que representa o comércio, cuja previsão é de vendas menores neste 12 de outubro (Jornal de Londrina).
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