quinta-feira, 6 de outubro de 2011

A criança que somos para as crianças que temos

Brincadeiras de roda e de rua para todas as crianças de zero a sessenta, setenta, oitenta, noventa ou cem anos de idade. Este seria um bom presente para comemorar o 12 de outubro.

Seria! A cada dia que passa torna-se mais cômodo admitir que já não podemos fazer muitos coisas que tínhamos direito no passado. Brincar na calçada em frente de casa, por exemplo, era uma obrigação. As ruas tranqüilas permitiam e os pais preferiam que as correrias e as gritarias fossem do lado de fora do portão.

Os tempos mudam, esta frase é comum desde lá atrás. Mas nos últimos anos algumas áreas passaram por transformações rápidas e radicais, com avanços da noite para o dia.

A tecnologia, por exemplo, trouxe nesta área digital o mundo para dentro de casa através de conexões que custam caro, mas tornam-se necessárias. São jogos, lazer, bobagens inofensivas ou agressões grosseiras acessíveis a qualquer hora. Nem para fazer os trabalhos escolares as crianças precisam ir a uma biblioteca. Com alguns cliques a tarefa está formatada e pronta para ser rodada na impressora doméstica.

Mas só a tecnologia seria insuficiente para tirar as crianças brasileiras das brincadeiras de rua. Um monstro perigoso, muito mais nocivo do que o carro preto que pegava os alunos nas saídas das escolas, conforme uma lenda urbana nunca comprovada, atormenta os pais: a insegurança.

E insegurança é medo, pesadelo, dor de cabeça, preocupação. É sair de casa cedo para o trabalho pensando sempre no pior para si mesmo e para os familiares, sobretudo as crianças. É ter a criminalidade como algo possível de acontecer a qualquer hora e em qualquer lugar. Infelizmente, sentir que qualquer pessoa pode ser vítima e não somente quem se descuida.

Junto à tecnologia e a insegurança temos a vida atarefada dos adultos. Todos tem que correr atrás do pão de cada dia. E para evitar preocupações, as crianças ficam em casa diante dos monitores de tevê ou dos computadores.

Alguns conceitos também mudaram, um tanto para melhor, outro para pior. Valores também foram alterados. O politicamente correto às vezes é trava na vida das pessoas, porque são tendenciosas e parciais. Se é verdade para uns, é mentira para outros.Assim alguns pais preferem que seus filhos ainda crianças sejam adultas, esclarecidas precocemente sobre temas complicados e com linguajar que amedronta, tamanha é a demonstração de maturidade.

Perdemos muito. Nesta Semana da Criança que se inicia, como família podemos resgatar um pouco do que gerações passadas tiveram em seus cotidianos. Há de sobrar um tempo no início das noites para breves passeios e brincadeiras nossas, como crianças, junto com as crianças que são os nossos filhos.

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