quarta-feira, 19 de outubro de 2011

Filhos de ricos roubam e aparecem como vítimas

Estranho o comentário do apresentador do Paraná TV 2ª Edição, após a matéria sobre a prisão dos quatro jovens de Rolândia filhos de famílias de classe média. A reportagem produzida pela equipe de Londrina da RPC TV (TV Coroados) foi ao ar na terça-feira, dia 18 de outubro de 2011, bloco de Curitiba. O apresentador é o jornalista Sandro Dalpícolo, que passou pela emissora do grupo em Londrina, após se formar em comunicação social na UEL.

Estranho também a cobertura do caso pela Folha de Londrina, que consultou até uma psicóloga para falar sobre o envolvimento de “ricos” na criminalidade. Da mesma forma é estranho a Folha não ter divulgado os nomes dos acusados, ao mesmo tempo em que expõe a avó de uma das vítimas publicando a identificação completa da mulher entrevistada pelo repórter Davi Baldussi.

Já o porta-voz da Polícia Militar em Londrina, capitão Ricardo Eguédis, entra no clima da mídia tendenciosa e também analisa o fato como atípico, impossível de explicar e sem lógica.

Todo este pano de fundo é porque um dos rapazes seria filho de um médico e outro seria filho de um advogado. Os dois restantes completariam a cadeia como sendo também de famílias abastadas. Eles realizaram de quatro a cinco assaltos em Londrina, entre a região do Jardim Dom Bosco e as proximidades do Jardim Bandeirantes.

Usaram armas de brinquedos e, aqui entra o tom de “espanto” do porta-voz da polícia, dos repórteres, dos editores e no caso das TVs, inclusive dos apresentadores: o carro utilizado é novo e pertence a um dos jovens.

O depoimento da psicóloga comportamental Daniele Fioravante está na lógica e já foi repetido por outros profissonais em reportagens que tratam de jovens de famílias abastadas na criminalidade. Sim, criminalidade. Como aqueles que formam gangues para queimar indigentes e índios. Ou os que saem à noite pelas ruas, em luxuosos carrões, extravasando as neuroses com a violência. Os acusados de homofobia que já foram presos que o digam: a maioria é classe média.

Enfim, a psicóloga sustenta que é manha. É excesso de protecionismo. O que dá em educação mal dada alimentando vícios e permissividades. Em outras palavras, a diferença única é que o marginal que surge de uma comunidade em situação de extrema pobreza provavelmente não teve a oportunidade de uma boa educação, enquanto estes dos carros novos não mereceram esta boa educação. Alguém deu ouro a eles e se omitiu do resto.

Mas tanto um quanto outro é bandido. Quem rouba usando arma de brinquedo ou de verdade é bandido do mesmo jeito. Quem assalta dirigindo um carro próprio e novo é tão ladrão quanto o outro que antes de um assalto rouba um carro na rua. E quem aterroriza traz dentro de si essa necessidade de amedrontar os outros sendo rico, pobre ou remediado. Portanto, é do mal do mesmo jeito usando roupas de marcas ou chinelos de dedos nos pés.

O porta-voz da policia diz que se foi uma brincadeira dos meninos o ato mobilizou cerca de 25 policiais. Não foi uma brincadeira só porque os meninos são ricos. Foi uma sucessão de crimes com possibilidade de conseqüências às vítimas muito maiores do que aquele ato da mulher que roubou um pote de 250 gramas de manteiga num supermercado para matar a fome do filho e ficou detida por quatro meses.

O apresentador da RPC TV disse que se foi uma brincadeira os resultados poderiam ser trágicos. E indagou sobre a possibilidade de uma das vítimas estar armada “de verdade” e reagir. Flagrante descompromisso com a sociedade, pois a preocupação evidente foi com a vida dos filhos dos ricos que decidiram “brincar de assaltar”.

Acreditamos que a Folha ainda tentou uma abordagem mais pé no chão, contextualizando o tema com a consulta a uma profissional de psicologia. De qualquer forma, corre o risco de a mesma preocupação ser esquecida se um jovem pobre de uma localidade periférica se envolver no crime pela primeira vez, embora sendo de uma família rigorosa na educação dos filhos. Cabe o benefício da dúvida.

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