Há questões que só ganham espaço/tempo nos meios de comunicação diante de acontecimentos trágicos. Isso é resultado da busca diária de notícias que são construídas a partir de fatos que mexem com a população. Não interessa a estes meios notícias frias e nem mornas. E não interessa a elas descobrir coisas quentes que viram boas notícias se trabalhadas com inteligência. Por isso, só é notícia o que é ruim: corrupção, homicídio, assaltos, escândalos, miséria extrema, fome insustentável, podridão fedorenta.
Às vezes a sede de altos valores de patrocínios e a busca cotidiana de sensacionalismo fazem alguns destes meios virarem de lado. Como também funciona a lei da necessidade básica: se uma equipe de ginástica conquista três medalhas nos Jogos Panamericanos não há como não dar a notícia. Fica chato omitir esta informação. Mas se um atleta sem patrocínio do poder público de uma modalidade menos da moda vence um torneio internacional ele terá muita dificuldade de aparecer, por ser desconhecido, desprezado pelas mídias e não ter apoio de grandes empresas. Faz parte do jogo de interesse dos meios de comunicação.
Outras vezes ocorre de uma equipe de redação ser fechada. Seus integrantes trabalham só por suas ideologias. Inimigo não tem vez. Quem não é da turma fica de fora. E faz-se um jornalismo miúdo de conteúdo, porque entra um artista de pouca expressão que é conhecido de fulano, mas desconsidera-se o outro, da mesma envergadura, por este não ser enturmado.
Já tratamos neste blog, superficialmente, do forte grau de pressão que os professores enfrentam nas salas de aula como resultado da violência. E se não há segurança na escola a culpa é do Estado, que é responsabilidade daqueles que elegemos. Município, Unidade da Federação e Nação devem segurança aos professores, da mesma forma que dão as costas à toda a população. E se não dão segurança nem aos professores, onde o cidadão comum encontrará força para cobrar o que o Estado deve a ele?
O Estado de S.Paulo traz na edição deste domingo, dia 30 de outubro, quase duas páginas sobre o assunto. O título da matéria principal, na página A24, é “Violência contra docentes deixa marcas”.
Numa matéria de apoio, com o título “Impunidade magoa as vítimas de agressão”, há o depoimento de uma diretora. Maria Aparecida de Fátima, 55 anos, foi atingida por um pontapé desferido por um aluno de 15 anos que também a agrediu verbalmente. Ele teria dito, segundo a reportagem: “Vou te matar, sua vagabunda”.
O fato aconteceu em Contagem, no Estado de Minas Gerais. O aluno de 15 anos agrediu verbal e fisicamente a diretoria porque ela determinou a ele que entrasse na sala para assistir a aula.
Na página seguinte a reportagem prossegue com o título “Ameaças levam professor ao esgotamento”. Consta o depoimento de uma especialista que dicidiu abrir para a consulta gratuita o atendimento de uma professora vitima de agressão na escola. Vieram oito em seguida quando souberam do atendimento gratuito e, segundo a especialista, na metade foi diagnosticada síndrome do estresse pós-traumático.
Sabemos de ocorrências em Londrina. Raramente um jornal impresso, uma emissora de TV ou de rádio abordam o assunto. A abordagem serviria pelo menos para alertar a sociedade sobre esse tipo de acontecimento. E seria uma cobrança direta aos responsáveis. Com certeza haverá manchete quando surgir um caso extremo. Ou seja, quando alguém sofrer agressão os jornais correrão atrás da história como abutres voam sobre os restos.