segunda-feira, 12 de dezembro de 2011

Uma abordagem realista do mercado de trabalho

Poder público e jornalismo tendencioso têm pontos em comum. Ambos são poderes. Ou pelo menos acham que são. Além disso, costumam, os dois, serem unilaterais em suas análises e decisões.

Tomemos como exemplo os números oficiais que frequentemente são divulgados sobre a queda do desemprego e o conseqüente aumento das contratações com carteira assinada. O poder público, através de levantamentos próprios ou de institutos contratados, relatam resultados de pesquisas animadoras: menos desemprego, mais gente no mercado formal de trabalho. Os jornais apenas reproduzem a euforia do poder público.

Um fato raro é a reportagem assinada pelo jornalista Fernando Jasper, da Gazeta do Povo, publicada na edição desta segunda-feira, dia 12 de dezembro de 2011, na página 17, de Economia. O título já está mais perto da realidade do que as costumeiras reproduções do que o governo quer que seja, independente daquilo que a população enfrenta.

“Mercado só gera emprego que paga até dois salários”. Vamos conferir o que diz a linha fina, aquela espécie de resumo logo abaixo do título: “Número de vagas com carteira assinada cresce desde 2000, mas de forma desigual. Em postos mais bem remunerados, demissões superam as contratações”. Está ai. É isso que o poder público não gosto de ver divulgado. Na verdade, a maquiagem é o aumento das contratações, mesmo que a maioria delas seja para pagar somente um salário mínimo. Isso, para o homem que está no poder público, pode ser positivo nas próximas eleições. É somente nisso que a maioria pensa.

Vamos reproduzir o comecinho do texto: “O número de empregados com carteira assinada no Brasil aumenta desde 2000. Nesses quase 12 anos, o mercado formal absorveu 14,7 milhões de pessoas, o que resultou em avanços na qualidade de vida da população, em uma significativa ampliação da classe média e, consequentemente, no desenvolvimento de um novo e cobiçado público consumidor”.

Até aqui, ótimo. Porém... entra o contraponto: “Essa expansão do emprego ocorreu de forma desigual em termos de salário: os novos postos de trabalho se concentraram em vagas de baixa remuneração, que pagam no máximo dois salários mínimos mensais – o equivalente, hoje, a R$ 1.090. Para quem pensa em ingressar numa empresa ganhando mais que isso, o mercado encolheu”.

Pronto. A única restrição que fazemos a esta última parte é que ninguém pensa em ingressar numa empresa ganhando mais que dois salários mínimos. Alguém precisa de um emprego que pague mais do que isso, dependendo de sua qualificação e sua área profissional. Um profissional de enfermagem, por exemplo, seja o de nível técnico ou com diploma de curso superior, às vezes é alijado do mercado de trabalho por não aceitar salários abaixo do que o regulamentado para a profissão.

Então é isto. Esta reportagem é verdade. Não pende para interesses patronais e governamentais. É o retrato do que ocorre por ai. 

Nenhum comentário:

Postar um comentário

COMENTE: